06/09/2009

"Até um relógio parado dá as horas certas duas vezes por dia"

Por acaso, tive esta saída inspirada quando reparei que o colega do lado,no trabalho, tinha o relógio parado.
Há duas semanas, diz ele. "Mesmo assim, o relógio dá-lhe horas certas duas vezes por dia", disse-lhe eu.
Mais do que relógios, esta afirmação reconhece a validade das pessoas.
Isto é tudo muito bonito e toda a gente vale alguma coisa, todas as experiencias, todas as ideias, bla bla bla... A verdade é que, quando me toca a mim sentir-me uma nulidade, o faço melhor do que ninguem. E estas frases são isso mesmo: frases. Mais ou menos grandes, com muitos floreados rococos ou deliciosamente simples, mas todas elas vazias porque não alteram aquilo que eu sinto ou vivo. Mas isto são contas de outro rosário.
É uma frase bonita e é absolutamente verdadeira. E seria infinitamente bom se pudessemos programar o nosso cérebro para memorizar máximas deste tipo e fazê-las piscar como um letreiro quando precisássemos de uma forçazita...
Tenho 22 anos e, às vezes, olho para a minha vida como imagino que um idoso olha para a sua. Para trás. Como se tudo o que poderia haver de bom e bonito estivesse lá atrás. Como se estivesse cansada.
Os velhinhos que olham para trás são relógios parados. Mas duas (ou até mais) vezes por dia, dão-nos as horas certas, dão-nos aquilo que precisamos ouvir, ou aquele olhar sereno que nos conforta.
Adoro velhinhos! Adoro ver a lentidão cuidadosa com que caminham, as rugas que lhes marcam o rosto e as mãos, o brilho sempre presente nos olhos que já viram tanto...! Um antigo colega de trabalho, de qundo eu fazia visitas guiadas a Quintas de Vinho do Porto, dizia-me que eu deixava os velhinhos doidos comigo, porque os rodeava de atenção e porque lhes sorria sempre.
Ri-me, ao início, mas reconheço que é verdade...
Até aqueles que, no comboio, nos falam. Mesmo tendo nós um belo livro para ler, uma revista para devorar, ou música para nos distrair... E eles falam. Desagradável, para alguns. Eu, gosto de os ouvir. Gosto das histórias, da forma como falam, das palavras que usam, da sabedoria muito pouco científica mas cheia de experiência e senso-comum que possuem.
Ninguém é um relógio parado, afinal. Porque até aqueles servem o propósito para o qual foram feitos duas vezes por dia.

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