22/06/2011

"A Filha do Capitão", de José Rodrigues dos Santos

Um à-parte: Padrinho! Querido, adorado Padrinho! Lembras-te? Falavas muitas vezes neste livro... Lembrei-me de ti todas as vezes que olhei para a capa! =)


Se ainda não leram: Leiam! É uma grande obra, um grande romance. E não me refiro, obviamente, às 600 e tal páginas. É uma história que começa dividida entre o Portugal e a França da última década do sec. XIX, onde acompanhamos a primeira infância, crescimento, adolescência e juventude de Afonso e Agnès, respectivamente, e que continua e culmina na Primeira Guerra Mundial, acontecimento trágico que possibilitou o encontro de ambos.

O romance é envolvente e o relato histórico, apaixonante. É evidente por diversas vezes um exaustivo trabalho prévio de pesquisas e consultas a documentos históricos e merece um tremendo reconhecimento o levantamento e partilha de tantas informações detalhadas e narradas com extrema sensibilidade e graça acerca da vida dos portugueses arrastados pela mão da nossa velhinha aliança com Inglaterra para as Trincheiras. (As "trinchas". Amei! Amei o pormenor de ser respeitado o jargão militar das trincheiras.)
Sempre tive um fraco pelo tema das duas Grandes Guerras e, também por causa disso, atirei-me avidamente a este romance. Já há muito tempo que não lia a um ritmo de entre cerca de 60 a 70 páginas por dia... Soube bem.


Agora, para quem já leu...

Se quem ainda não leu continuar a ler o post, depois não venham cá reclamar que eu sou uma tristeza e estrago o suspense todo...

É horrível... Ho-rrí-vel. Não há direito de escrever uma história destas, que me sugou a atenção até quando não estava a ler, do género de estar no trabalho a pensar "Mas o que é que irá acontecer, meu Deus??Oxalá não sejam desgraças!!"... Dizia eu, escrever uma história destas, pôr-me ansiosa, literalmente ansiosa e angustiada, a coleccionar todo o tipo de presságios negros acerca do destino dos nossos heróis, atirados e abandonados lá pelo frio lamacento das trinchas da Flandres, a temer por eles, como se de um relato actual se tratasse... E depois não os presentear (a eles e a mim) com um final feliz. Não há direito. Eu chegava a ter medo de continuar a ler, para que não acabasse, para que não acontecesse o pior... Mas em vez de abandonar a leitura, lia ainda mais depressa, para saber...

Na capa lê-se Romance mas eu tenho tendência para associar Romance a Novela, e este Romance vai para além disso. Isto é uma história de amor. Não o amor evidente entre um homem e uma mulher, as duas personagens principais, mas um amor maior e mais alargado, pelo país, pela História e pelos costumes, pelos superiores e pelos amigos e camaradas, pela vida, pela justiça, pela alegria, por Deus ou pelo Fado, pelas pequenas coisas, por um prato de bacalhau om batatas e um fio de azeite, por uma moça bonita e roliça.

Sobressai uma exaltação e uma homenagem aos Portugueses que fizeram a Primeira Guerra. Considerados uns labregos, quer pelos bifes, quer pelos franciús, desprezados e gozados pelos boches do lado alemão. Acostumados às nossas temperaturas medianas, sofrem os horrores do frio glacial da Flandres e usam os tradicionais coletes de pele de carneiro, merecendo, por isso, a caricata alcunha de lãzudos, por entre as tropas inimigas, que se punham a fazer Mééééééé de cada vez que viam um português espreitar sobre os parapeitos da Linha da Frente. Os mais desorganizados, sem dúvida. Os mais pobres e sujos. Os menos motivados para a batalha, afinal a Guerra nem era nossa... Abandonados e esquecidos lá longe, enquanto o país se via a braços com os probemas e crises da recém implantada República.

Mas, apesar disto tudo, de uma grandeza, um estoicismo e uma humildade inspiradoras. Fiquei verdadeiramente tocada e, claro, escusado será dizer, lá me pus eu a choramingar em duas ou três ocasiões e mais outra no final... Sou uma tristeza. Este livro é uma tristeza, por me pôr assim. É que é tão lindo...! Pronto, já desabafei. Vou calar-me... Talvez ainda chore mais um bocadinho quando for para a cama hoje...

(Mas atenção. Eu não gosto dos livros que nos fazem chorar. Livros feitos para nos fazer chorar, género Nicholas Sparks e mais não sei quê... Gosto daqueles que comovem por nos envolverem e conquistarem. Não por relatarem desgraças. E este é definitivamente do segundo grupo.)

8 comentários:

  1. Ando a olhar para este livro há já algum tempo, ainda não li nada do José Rodrigues dos Santos, e queria começar pelo primeiro, caríssima deste-me a pica que faltava. Há já algum tempo que não leio um livro que me "agarre" tenho 5 começados e nada... espero que seja este

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  2. Leoamiga

    Para mim é o melhor livro do José Rodrigues dos Santos - que conheço bem. Partilho do que escreves, mas, alto lá, não vou até à lágrimas. E não porque seja «feio um homem chorar». Já me aconteceu umas quantas vezes, de comovido.

    Mas, perante um livro, jamais me sucedeu. Mesmo que seja um grande livro, como é o caso. Por isso, lê, lê, lê... mas deixa-te de choraminguices... rsrsrs

    Qjs

    E vivó Sporting!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Cara Papoila... aposto que leste o post todo. Inclusive a parte destinada a quem já leu o livro... =) mas tenho a certeza que vais adorar... Só que este não é o primeiro livro do JRS. É "A Ilha das Trevas".

    Caro Henrique, gostei muito do teu comentário! O meu problema é que me envolvo e comovo com muita facilidade... Vou fazer um esforço por me deixar disto e ler como uma mulherzinha!
    Beijos (que é não gosto de queijos) e vivó Sporting, ora pois!

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  4. Que espectacular!
    Pronto, já decidi em qual vou pegar depois de terminar "A Vida num sopro". Já li 3 livros do JRS e gostei de todos eles porque são livros que nos prendem... Mas olha, tu que gostas de variar nos escritores, lê tb "3 Vidas" de Joaõ Tordo. É um livro que lês em 3 dias, mas eu fiquei fascinada! :) Marlene

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  5. Marlene, por acaso ja por algumas vezes me pus a procura de Joao Tordo la pela biblioteca, mas nao ha nenhum livro dele para ja... Eu procurava "O bom Inverno", mas tambem vou estar atenta ao que referiste! Espero que gostes de ler "A filha do capitao"!

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  6. Humm.. O Bom Inverno já o tenho aqui para ler!
    Tive a sorte de ter o João Tordo numa Feira do Livro aqui onde trabalho e tivemos uma conversa muito interessante. Aproveitei e comprei logo os 3 que ele já editou. Julgo que está a terminar (ou já terminou o 4º). Os livros dele ainda não se encontram muito por aí porque é um escritor com pouco "peso" no panorama nacional (infelizmente!). No entanto, se não o encontrares, empresto-te de bom grado! :)
    Beijinhos*

    P.S. Não sei porque raio o blogger não me deixa publicar como Marlene! :S

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  7. Que sorte, teres tido a oportunidade de conversar com ele! Obrigada pela oferta... hei-de lembrar-me, se nao conseguir encontra-lo... :-)

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  8. Ya eu sei que este não é o primeiro... mas é o que me suscita mais curiosidade, mas queria ler o primeiro de todos primeiro :p sim li tudo :p

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