28/09/2012

Acrescenta-me um ponto...


A Poppy lançou-me o desafio (malvadaaaa!!!)... (tou a brincar, ser desafiado é bom. É sinal que alguém quer espicaçar algum lado mais arrojado de nós...) O desafio chama-se ACRESCENTA-ME UM PONTO e orienta-se da seguinte forma:


1 - O texto, constituído por vinte parágrafos, terá início no blogue "O Sabor da Palavra" (http://osabordapalavra.blogspot.com), segundo o seu autor Gonçalo Cardoso.

2 - Cada bloguista terá direito a um parágrafo do texto com o máximo de cinco linhas. Não é taxativo, tanto pode ser mais ou menos, mas sem exageros.

3 - Após a realização do parágrafo respectivo, cada bloguista terá que seleccionar outro bloguista que cumpra a continuidade do texto, segundo as regras mencionadas.

4 - Cada bloguista terá o limite máximo de três dias para realização do parágrafo, estando sujeito a desclassificação da rubrica e seleccção de novo bloguista por parte do seu autor.

5 - Cada bloguista assinará o seu nome e respectivo blogue na lista dos participantes.

6 - O último participante ou autor do vigésimo parágrafo, finalizará o texto e partilhará com o autor do blogue "O Sabor da Palavra" para a sua divulgação no blogue inicial.

7 - Sejam criativos.

Lista de Participantes:
 1 - Gonçalo Cardoso (O Sabor da Palavra)
 2 - Buxexinhas (Pedacinhos de mim...)
 3 - Karochinha (O Meu Eu)
 4 - A Minha Essência (Roupa Prática)
 5 - Olívia Palito (Olívia Palito no País das Maravilhas)
 6 - L'Enfant Terrible (L'Enfant Terrible Lx)
 7 - Utena (Os meus idealismos)
 8 - Alexandra Martinho (Ouso Escrever)
 9 - AC ( nadadecoisanenhuma)
10 - Poppy (Apontamentos de Luz)
11 - Briseis (do meu pedestal)
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E começa assim:

"Já tinha dobrado as duas da manhã. Estava a sair da emissão de rádio, incomodado com um ouvinte que alegava a minha falta de isenção jornalística. Segundo ele, apenas dava voz aos ouvintes do sexo feminino e os temas escolhidos revelavam uma tremenda homofobia. Estapafúrdio, dizia para mim! Mas para o exterior resolvi o problema com a introdução de uma música de intervenção social. E assim fechei o programa. Peguei na mala, desci as escadas em direcção ao parque subterrâneo e ao chegar junto do carro encontrei um segredo envenenado..."

“No seu vestido vermelho delineado na pele, ela olhava-me intensamente recostada no capô do meu carro, como um lince que espera a sua presa. Por momentos o meu coração parou de bater. ‘Voltou…’, pensei angustiantemente. Fantasmas do passado e segredos escondidos no recanto mais negro do meu ser… Renascidos da minha cinza. Em passos lentos, dirigi-me a ela. As palavras silenciosas do seu olhar disseram-me para onde ela me levaria. Entrámos no carro seguindo para o local temido…”

"...por ambos.
Aquela falésia onde, alguns anos antes, a tragédia se abatera sobre as suas vidas alterou os seus futuros para sempre. E todos os anos, no mesmo dia, encontravam-se antes do amanhecer, naquela pedaço de rocha que se erguia sobre o mar, numa esperança vã de expiarem os seus pecados mais profundos. Chegados ao local, saíram do carro e mais uma vez, as suas mãos encontraram-se e uniram-se, os seus corpos aproximaram-se e ela disse-lhe:"

"... Com a voz tremida, sussurrada, gélida, com a postura hirta e consciente do momento, Amanda começa a debitar desenfreadamente como tudo aconteceu, naquela fatídica noite...
... "Não tive culpa! Não tive! Acredita em mim, por favor! Foi um acidente. Foi ele que escorregou da falésia, ele!" - Sedutora mas ao mesmo tempo frágil, ela sabia exactamente como emaranhar um homem na sua teia. Sabia exactamente a palavra certa a ser usada, o gesto proveniente, o olhar mais assertivo para a ocasião. Manhosa, laça-o num envolvente abraço onde o choro compulsivo é o senhor do momento. Entre soluços mas, com uma voz doce, repete incessantemente, "não fui eu! Não fui eu!" - Com o rosto apoiado no peito de Edmundo, via-se claramente o sorriso dissimulado que fazia. Ele, estava completamente rendido à fragilidade dela mas, ao contrário do que ela pensava, que o tinha nas suas mãos, Edmundo, também tinha algo a dizer..." 

 "...  acerca daquela fatídica noite.  Edmundo fixou o olhar na falésia e ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto os braços de Amanda o envolviam. De repente,  ficou tudo absolutamente claro na cabeça de Edmundo, as peças do puzzle mental começavam a encaixar-se na perfeição. Lembrou-se da conversa off record que tivera com o inspector da polícia acerca do relatório da autópsia de Fred. Segundo o mesmo relatório, Fred havia ingerido uma dose substancial de whisky, confirmando assim o álibi de Amanda, de que Fred se desequilibrara e caíra daquela falésia. Porém, fez-se luz e um pormenor fulcral escapara a ambos: ao inspector da polícia e a Amanda, mas não a Edmundo..."

"...isto porque Fred não bebia whisky, sofria de doença celíaca, de modo que tudo o que contivesse glúten, o que incluía bebidas feitas de malte, não lhe passavam pela garganta. Por outro lado a revelação Fred fizera a Edmundo um dia antes da tragédia era de todo desconcertante, tanto mais que de dizia respeito aos três, sendo que conteúdo da mesma tivera desde então um profundo impacto em Edmundo, ao ponto de o mesmo perder parte da sua imparcialidade jornalística. Ainda assim, envolto no choro soluçado de Amanda, Edmundo era incapaz de proferir uma palavra, de partilhar com ela o que pensava porque havia mais um elemento em jogo, uma dúvida perene que o levava a sentir-se tal como o mar revolto e sem definição que vislumbrava no horizonte..."  

“Não querendo mas ao mesmo tempo sem conseguir parar a maré das lembranças chegou-lhe à memória aquela noite que hoje lhe dava o conhecimento do facto de Fred não beber whisky. Fred confessou-lhe num ousado momento de coragem que se sentia atraído por Edmundo e que isso o deixava sem saber como agir pois nunca tinha sentido isso por homem nenhum já que sempre fora um mulherengo por natureza!
A convivência dos dois, muito por culpa de Amanda, o lamber das feridas causadas por esta mulher de escrúpulos nulos tinha feito com que os sentimentos florescessem em dois homens que mesmo nada indicando que assim fosse os levou a sentir o que para ambos deveria ser tabu.
Edmundo voltou a realidade com um soluço mais audível de Amanda e quando à olhava no profundo dos seus olhos verdes deu-se conta…”

"...deu-se conta do quanto aquela mulher já havia sofrido. Fred horas antes de falecer havia contado a Edmundo que Amanda aos 20 anos se havia submetido a uma cirurgia de retribuição sexual. Sim, Amanda fora um menino em outros tempos, mas hoje era aquilo a que Fred e Edmundo chamavam de tentação. Edmundo olhava-a e um misto de sentimentos lhe assolavam a mente, perdera alguém que lhe era muito próximo, um amigo, mas também, um silencioso admirador. E ali, diante de seus olhos estava a mulher indefesa e esbelta que soluçava e por quem ele era estupidamente apaixonado, mas que carregava tão pesado segredo. Segredo esse que toda a sociedade condenava e condena. Edmundo perturbado necessita voltar, ir ao encontro do seu pedaço de chão para meditar e montar todo aquele puzzle confuso. Suplicou-lhe - "Amanda, necessito ir, vamos?". Amanda para ele olhou, com olhar fugaz, e disse..."

"...És um homem cruel senão me aceitas como sou. E se assim for sem dúvida que não me mereces.Sou especial, sou única e estou disponível para te amar, com tudo o que tenho para te oferecer, mas jamais partilharia a minha vida ou o meu corpo, com quem olhasse para mim com desprezo ou nojo. Sendo assim cuida-te, olha para ti, observa-te com atenção e vais reparar em todos os teus defeitos... por agora vou apenas embrulhar-me no teu casaco sentir o teu cheiro e o teu calor que são presença nele e esperar que tu abras os olhos e possas ver para além do físico, do estereotipo e do preconceito a mulher que hoje eu sou...estou aqui, estarei sempre aqui para ti... de braços abertos...anda, decide-te não tenho o tempo todo..."

"... mas na cabeça de Edmundo cada vez mais as dúvidas e as desconfianças se instalavam. Havia demasiadas incongruências em torno daquela noite e um relatório conivente com o que Amanda lhe dizia mas contrário ao que conhecia de Fred, este jamais poderia ter bebido Whisky naquela noite. Não estavam em causa os desejos que nutria por aquela mulher, não se colocava em questão a mudança de sexo, o que lhe assolapava as ideias era tão somente o que teria sido capaz de fazer aquela mulher de escrupulos nulos, de vermelho vestida se soubesse do que acontecera entre eles, não foi capaz de lhe dizer nada mais. Levou-a a casa e naquele momento só uma coisa lhe ocorria, tinha de estar com o inspector responsável pela investigação..."

"O encontro perturbador, aliado ao adiantado da hora, tinha um efeito nefasto sobre a sua lucidez. Conduzia como um autómato, a cabeça longe, muito longe da estrada por onde os olhos passavam. Era de noite, ainda. Para não enlouquecer durante as longas horas que antecediam a manhã e a sua oportunidade de falar com o inspector, foi para casa, tomou um banho tão quente quanto conseguiu tolerar e, ainda com o cabelo a pingar água e a pele a fumegar vapor, sentou-se a escrever a sua versão dos factos, a sua memória dos acontecimentos, caso algo lhe acontecesse… Escreveu tudo, longamente, e concluiu com a revelação do facto mais bem guardado:"


...e, neste ponto, gostaria de ver a Teté, que gosta imenso de ler e que sempre nos presenteia com posts adoráveis sobre os assuntos mais banais, a pôr a sua linda imaginação ao serviço do enriquecimento desta história, que já vai longa... =) 

"O Clube de Tricô de Sexta à Noite", de Kate Jacobs


Este é um daqueles livros ligeirinhos... fofinhos... em que temos um grupo de senhoras bastante heterógeneo, desde a heróica mãe solteira que consegue ter sucesso em Nova York, à mulherzinha loira e escultural que fez um casamento milionário e que nunca se sentiu realizada ou amada, passando por uma idosa viúva, rica e bondosa, à estudante modernaça que odeia tudo o que simbolize a sociedade patriarcal e o domínio sobre as mulheres...
A vida destas personagens aparentemente tão díspares encontra-se à volta da mesa do Clube de Tricô de Sexta à Noite... É uma história sobre as lutas pessoais de cada um, sobre fazer as pazes com o passado, sobre o futuro se construir pelas nossas acções e não por intervenção de algum karma...
Os diálogos, às vezes, são um bocadinho secantes, assemelhando-se a falas de telenovela. A história nada tem de empolgante ou interessante que puxe para uma leitura compulsiva... É aquele livro que se vai lendo, mais por simpatia pelas personagens em si e pelas suas histórias particulares do que por alguma trama magistral... O final é desconcertante e quase irónico...
Enfim, este livro foi um passatempo. E, como o tempo, também ele passou por mim... Serviu o seu propósito de entretenimento ligeirinho, após a razia que fiz ao livro do Ken Follett (A Chave para Rebecca) que li anteriormente. "O Clube de Tricô de Sexta à Noite" é a antítese do outro.

26/09/2012

Ai, as Fundações...

A minha está, fatalmente, na lista das que vão ser extintas. Assim. Sem apelo nem agravo. Caso encerrado. Declare-se o óbito.
Isto não é dito numa de "a minha é melhor que a da vizinha", mas a extinção da FMD é de uma brutalidade inconsciente. É uma região que se vê, MAIS UMA VEZ, oprimida e abandonada. É retirar uma das poucas esperanças a este interior em que ninguém tem interesse, excepto os estrangeiros e, diga-se a verdade, alguns portugueses também... São eles que chegam cá e se espantam com o que há para fazer numa região que é um tesouro vivo e que vai morrendo por os apoios não chegarem e não se fazer nada que seja verdadeiramente no sentido de o engrandecer e promover...
E os cantares das vindimas este ano soam mais tristes do que nunca.
Os 30% que foram retirados a outras fundações chegariam para nos manter a nós durante ANOS.
É uma atrocidade. Quando achamos que já não nos podem tirar mais nada, que já não nos podem diminuir mais um bocadinho,eles surpreendem-nos...
Claro que há esperança... claro que as autarquias irão fazer tudo o que for possível para fazer compreender o equívoco que se quer cometer... mas o simples facto de se propor uma coisa destas é escandaloso...
Acabam com a nossa vontade. Depois de acabarem com os nossos sonhos de uma vida melhor no dia de amanhã, depois de nos convencerem que vamos sobreviver em vez de viver, depois de nos humilharem até ao limite, acabam com a pouca esperança que tínhamos e orgulho de que, ao ficar, ao perseverar, estaríamos a ser heróicos por não desistirmos do que é nosso... Acabam com tudo. O que mais restará para nos tirarem no fim disto?

22/09/2012

É oficial: sou paranóica... daquelas mesmo loucas... tipo doentias...


Lembram-se da história do verme?

A partir daí, tudo fino... Até que hoje, ao chegar ao carro, tenho um pedaço de um talão do Continente (sem data nem informação de como o pagamento foi feito. Só a parte superior, incluindo o descritivo dos artigos) pendurado na porta, escrito na parte de trás, com um vernáculo um tudo-nada lisonjeiro...

Ponho a minha cara de má, olho para todos os lados, os lábios contraídos num trejeito de repugnância e vou à minha vida... Levo o bilhete comigo e o meu dia resume-me a:

  • analisar os dizeres com cuidado: letra de mulher. ("o porco tem uma cúmplice", pensei eu)
  • analisar descritivo dos artigos: uns IceTeas, água... tudo inofensivo... E um pacote de Aptamil1. Dei-me ao trabalho de ir à net ver o que era: leite para bebé até aos 6 meses
  • mando sms a um colega do trabalho que tem um bebé e que conhece a história do verme, caso se tenha lembrado de fazer uma brincadeira... só para excluir a hipótese... Excluída.
  • TELEFONO para o Continente e peço à menina que me atendeu que peça ao responsável financeiro para verificar se, com o nr do talão fornecido por mim, me poderiam dizer de quando era o dito e, melhor ainda, se tinha sido pago com cartão e qual o nome do titular
  • telefono mais tarde para saber a resposta da menina simpática: negativa. Mas, dizia ela, caso a situação se agrave, convém ter o talão para apresentar à GNR
  • volto a analisar o talão minuciosamente e chego à conclusão que pode perfeitamente ter sido encontrado pela pessoa que escreveu e, logo, ser irrelevante
  • vou para o ginásio mais cedo, para libertar o stress
  • dou uma volta maior com o carro, no regresso, para não o deixar estacionado no mesmo sítio mas à beira da estrada, num sítio mais exposto
  • passo o dia a imaginar que onde quer que vá há alguém a observar-me, que enquanto eu estou em casa me estão a espreitar à janela e (curiosamente, ao mesmo tempo) a vandalizar-me o carro
A esta hora, sim, é perto da meia-noite, a marota da mulher do colega a quem perguntei (aquele da hipótese excluída) vem desbroncar-se via facebook...
Feito o relato do meu dia passado a fazer de Horatio Caine alternado com maluquinha com a mania da perseguição, acho que a deixei chocada...
Nos próximos tempos ninguém vai querer brincar comigo.... =(

14/09/2012

Transparente


A transparência é uma qualidade de beleza unilateral. É bonita para quem a vê. E é um problema espinhoso para quem a carrega...

E é uma meretriz, também... porque se bamboleia diante dos que querem olhar, sem dar nunca a garantia de que a sua dança vistosa seja a sua verdadeira essência...

(imagem retirado do filme Atonement)

13/09/2012

Grand Slam

Já foi há 3 dias, mas acho que devo na mesma deixar aqui o registo, afinal, não é todos os anos que temos este resultado... como classificar? ...estou dividida entre "giro" e "desconcertante"...
Pois temos, no início do ano, os 4 melhores do ranking ATP: Novak Djokovic, Rafael Nadal, Roger Federer e Andy Murray... E, quem diria que cada um deles ia levar para casa um torneio de Grand Slam, na ordem precisa da classificação...??
O "Djoker", levou o Australian Open.
O Rafa, El Toro, como não podia deixar de ser, fez todos comerem pó em Roland Garros.
O Federer teve um muito merecido regresso às vitórias em Grand Slam no torneio de Wimbledon.
E, surpresa das surpresas, Andy Murray quebrou a maldição e ganhou o seu primeiro Grand Slam no US Open.

The Golden Age of Tennis is on, people! =)

09/09/2012

Off to America...


Ontem vocês podem ter tido "mais uma noite de Sábado". Para mim, e sem querer soar muito dramática, foi a noite em que senti que enterrei a minha adolescência... Sim, já estou a meio caminho na casa dos vinte. Mas sim, tenho o síndrome do Peter Pan. E sim, tenho os meus ataques de ansiedade e agorafobias... Por tudo isto, vivi até ontem na ilusão de que a vida não é mais do que um prolongamento da nossa adolescência, aquela idade manhosa em que nos vamos apercebendo que o mundo não é cor-de-rosa, nem gira à nossa volta, mas ainda temos desculpa para fazer de conta que não nos apercebemos do facto...
Mas agora um do melhores amigos que alguma vez tive vai trabalhar para os States, uma amiga que tenho e conheço desde que tenho memória de ser quem sou vai para a Alemanha... juntam-se a tantos outros que, para mais ou menos longe, já foram. E os poucos que ficam só falam em desejos de fuga também.
Houve uma festa... uma festa de despedida, de "até já", onde recuei anos e me vi num ambiente já quase esquecido. Brindámos, sorridentes, mas tenho a certeza que não fui a única a sentir uma nuvenzinha pairar sobre o momento. Como se um capítulo se estivesse a encerrar... É certo que já não era um hábito reunirmo-nos naquele sítio, com todas aquelas pessoas... Mas era uma prática que estava em stand-by, havia a possibilidade, bastava querermos. Agora, não. Agora é um "até já" a tudo isso.
Cravei um cigarro ao meu amigo e vi evolar-se com o seu fumo a minha adolescência... O céu choveu, mas não chorou. Foi uma chuva abençoadora, e os trovões que se ouviam ao longe pareciam ser um desafio, um chamamento.
Depois separámo-nos e o dia de hoje amanheceu cinzentão e lúgubre, a condizer com a minha disposição...

"A Chave para Rebecca", de Ken Follett


Agarrei no livro, lá na biblioteca municipal, porque queria uma leitura absorvente e frenética. E assim foi. Li-o em menos de 48 horas. 396 páginas. Era o que eu queria... Mesmo sendo um bom livro, deu-me o dobro da satisfação o simples facto de ser precisamente o que eu estava à espera e precisava.
Durante a Segunda Guerra Mundial, no Cairo, há uma profunda rede de espionagem em que os ocupantes do Exército Inglês procuram defender a sua posição dominante contra os invasores alemães.
A história é contada a um ritmo duplo em que, ora acompanhamos as artimanhas de um sedutor e galante espião alemão, Alex Wolff, ora assistimos aos passos do major William Vandam, que o tenta capturar. Uma das coisas que mais me encantou no livro foi precisamente o facto de ele estar dividido entre dois protagonistas rivais. Não existe um "bom" e um "mau". Eles são dois heróis que se perseguem e se tentam anular e eu vi-me seriamente indecisa quanto a tomar partido por algum deles.
A história é narrada no habitual tom ligeiro de Follett, com uma linguagem muito directa, como se estivéssemos a ouvi-la de um amigo e, volta e meia, lá vem um episódio um tudo nada mais lascivo, só para apimentar a coisa...
É um livro que entretém, sobretudo. Um livro que não se serve de mistérios do tipo "quem será o espião?, quem será que matou?". Está tudo às claras. O livro e o suspense valem por si próprios, não por nos apimentarem a curiosidade e deixarem na dúvida até à última página. Só um grande contador de histórias é capaz de fazer isso.
...para me deixar triste, só um bocadinho triste, o final, que eu esperava grandioso, com um dos nossos heróis a vencer, inevitavelmente, e o outro a sair derrotado, deixando-nos com uma sensação agridoce...foi, afinal, um final bastante convencional, em que o charme e encanto de um deles se vai deturpando em meia dúzia de cenas reveladoras, destruindo completamente toda a admiração que tínhamos criado... E um livro que foi sempre grandioso, empolgante e magnificamente contado, no sentido de nos fazer ansiar por uma vitória e um final feliz para dois lados antagonistas, torna-se um livro "normal", com um lado "bom" e um lado "mau"... mas não vou dizer qual é que vence... =)
Fora este pequeno pormenor, adorei o livro... espero encontrar mais livros assim, quando preciso deles...

06/09/2012

"A Praia Roubada", de Joanne Harris


Mais uma vez verifiquei a validade da minha tese: prefiro o lado negro da JH ao seu lado fofinho...
A motivação para conseguir acabar de ler este livro foi: assim que o acabar, começo a ler outro!!! Mas confesso que, por várias vezes, e mesmo já perto do final, questionei hipoteticamente: será que eu seria capaz de largar este livro assim, neste momento, e nunca querer saber o fim? ...e a resposta foi sempre afirmativa... É uma daquelas histórias leves, de Verão, que cheira a mar e não nos absorve muito...
Vai-se desenrolando ao sabor da vida de uma ilha muito particular (ou talvez não, talvez todas as ilhas tenham os seus segredos, os seus ódios de estimação, as suas caturrices, as suas superstições...). E as personagens têm os seus comportamentos estranhos, os seus lados incompreensíveis e a personagem principal, que é a narradora (dificilmente gosto de livros com narradores que falam na primeira pessoa), lá vai andando, a gastar a sua angústia e culpa que não chegamos a perceber bem de onde vem, a buscar a sua redenção (de quê?), a tentar compreender os outros e a fazer um esforço por marcar a diferença numa aldeia parada no tempo à espera que o mar a leve... Rouba-se uma praia. Eu tinha uma expectativa muito poética de gente a transportar furtivamente baldes de areia e búzios de um lado para o outro, mas afinal a história é um tudo nada mais crua... Afinal é só uma barreira, um quebra-mar, uma coisa qualquer que se constrói para desviar as correntes...
O final valeu 20 pontos negativos porque este é um daqueles livros em que, no final, revelam-se todos os mistérios, uma verdade escondida que vem dar sentido a todos os sinais a que não prestámos atenção, a todas as frases que não procurámos esmiuçar ou reter, que vem tornar maiores todos os gestos até então cometidos...Como se um final onde é narrada uma história do passado, como seu quê de dramático e triste, onde todas as personagens, todos os nomes são envolvidos, pudesse compensar as mais de 300 páginas anteriores, fazendo finalmente delas sentido. Não me encanta, assim...

05/09/2012

3º aniversário, mil recomeços

O Meu Pedestal faz três anos hoje.
O tema da Fábrica de Letras para este mês é RECOMEÇOS.
Para assinalar o evento e participar no desafio, tive a real ideia de jerico de ir procurar inspiração no caderninho que escrevia, como um diário, nos idos de 2006/2007. De capa de pelúcia, presente das minhas meninas, Papoila, Mel, Sandrinha... será que me lêem?
Foi um período meio conturbado, por causa das crises de ansiedade e depressão de que já aqui tantas vezes falei... Por sorte, a minha mente arrumou muitos episódios tristes num cantinho escuro onde nunca passo mas agora, ao lê-los, choca-me a insignificância que me fiz... A desilusão diária dos que se cruzavam comigo, a incapacidade de me redimir, a falta de vontade de crescer...
É surreal dar-me conta do que fiz de mim mesma; tremo e choro incontrolavelmente, de revolta pelo que foi. Porque eu não podia ser melhor, não sabia como. Não sabia fazer-me entender. Desesperava toda a gente...
Olhando agora para as páginas escritas, sempre gelada de medo do escuro, sempre a tremer, sempre com dores, sempre com falta de ar, sempre com a desoladora sensação de solidão, dou-me conta de que muito ficou por dizer. Demasiado. Pus demasiado num montinho de folhas desinteressadas, escritas em soluços abafados, quando deveria ter partilhado mais.
Dou-me conta, também, de que tive incontáveis recomeços, tantos quantas as vezes que caí, que chorei, que senti euforia, que ressuscitei, que vomitei bílis... de todas as vezes, eu  dizia a mim mesma que era o primeiro passo numa coisa nova e melhor. Sempre à espera de melhor... Ainda hoje espero.

Para a Fábrica de Letras, com o tema "Recomeços"