31/10/2012

Pessoas, Livros

(a imagem foi-me enviada por um amigo que sabe o quanto gosto de ler. Não sei onde a foi buscar...)
 
As pessoas são muito como os livros.
Escolhe criteriosamente aqueles que te rodeiam, porque sabes bem que existem no mundo mais do que aqueles que poderás ler em duas vidas, quanto mais numa. Por isso, não há tempo a perder com livros vazios.
Não sejas mesquinha ao ponto de pensar que só os livros que te interessam merecem existir. O livro certo para ti pode ser lixo para um milhão de outros, assim como o livro que mais desprezas pode ser exactamente a praia de outros tantos.
Avalia bem a capa. Ela costuma ser sugestiva. Mas não te surpreendas se o conteúdo não for exactamente a condizer. É inevitável a sensação de que foste enganada se o conteúdo for mais pobre, mas é maravilhosa a sensação de descobrir que uma capa que não vale nada esconde um conteúdo riquíssimo. Hás-de passar pelos dois sabores.
Há um livro certo para cada momento. E o facto de este te parecer intolerável agora, porque não vai bem com a tua disposição, não significa que amanhã, ou depois, não seja o livro perfeito para ti, aquele que mais precisas para te confortar.
Os livros são muito como as pessoas. Podem até ser sempre os mesmos, mas os teus olhos e a tua consciência irão fazer-te olhar para eles de forma diferente de cada vez...
Como as pessoas, podes tê-los à cabeceira, à mão, para todos os momentos. Ou podes pô-los numa estante, entre os outros, sujeito ao pó, até que o teu capricho guie a tua mão até ele e o retire do anonimato outra vez. O livro estará lá, as suas palavras serão as mesmas.
Serão? Há sempre a possibilidade de as encontrares comidas pelas traças, borradas por alguma humidade ou meio apagadas pelo pó e pelo tempo. Mas o livro está lá e basta uma ação tua para o abrir.
Os livros e as pessoas existem, independentemente de ti. Mas existem de uma maneira diferente quando te ligas a eles.

30/10/2012

Prémio Dardos

A Poppy teve a generosidade de me oferecer um selinho, em reconhecimento e apreço pelas altas intelectualidades que eu aqui vou postando... Cofff, cofff... (isto é um tossicar afectado, caso não tenham percebido...)


Ora, o Prémio Dardos foi criado pelo escritor espanhol Alberto Zambade que, em 2008, concedeu no seu blog, Leyendas e el pequeno Dardo, os primeiros Dardos, destinados a quinze blogues, que deveriam indicar outros blogues igualmente merecedores e por aí fora. Assim o prémio se espalhou pela internet, e destina-se a reconhecer os valores e empenho demonstrados por cada escritor de blogue. 
As regras do Prémio Dardos são:
1 - Exibir o selo;
2 - Linkar quem o premiou;
3 - Escolher outros blogues para indicar o prémio;
4 - Avisar os escolhidos.

Portantosss.... O selinho cá está. O link para a mui generosa Poppy também. Os blogues a quem eu reconheço valor e, por isso, acho merecedores de o ostentarem (mesmo sabendo que alguns não irão partilhar...) são (por ordem alfabética):

1 - A minha travessa do Ferreira, embora, por motivos incontornáveis, o caro Ferreira ande um pouco por fora destas blogosferas;
2 - À esquina da tecla, onde há sempre um passeio, uma fotografia, um pensamento ou um silêncio inspiradores;
3 - Blog do Otário, por tantas e tantas Otarices incansavelmente partilhadas;
4 - Crónicas do Rochedo, lugar de tantas crónicas, algumas passadas, outras actuais, algumas doces, outras mais amargas, mas sempre boas de se ler;
5 - El Matador, cujas histórias (ou estórias) e heresias muito me entretêm;
6 - Just a Woman, que, não fosse já o conteúdo do blog do mais rico e são, o selo seria merecido só pela autora que, com tanta assertividade e generosidade sempre me vem comentando. Obrigada!
7 - Love at Sight, que proporciona sempre visitas agradáveis aos olhos, aos ouvidos e à mente;
8 - Lágrimas em Ré Maior, que é escrito pela Fabi, uma menina muito "real", muito "normal", muito "como eu";
9 - Mundo Catso, pelas gargalhadas e bom humor que sempre provoca, mesmo sobre os assuntos mais corrosivos. Porque rir é mesmo o melhor remédio;
10 - Os meus óculos do mundo, porque vale bem a pena dar uma espreitadela através dos óculos simpáticos e sensíveis da Teresa;
11 - Utopia Realista; porque ser Utópico não faz mal a ninguém; ainda por cima, estas são Utopias Bem  Realistas;
12 - Val'nada, Johnny, tenho imensas saudades dos teus escritos! Enquanto não regressas às postagens regulares, vou de vez em quando dar uma vista de olhos às passadas. Vale sempre a pena!

São, no geral, os blogues onde perco a maior parte do meu tempo porque,por um ou outro motivo, me encantaram. Espero que, mesmo que não partilhem o selinho (já ouço alguns meninos ao fundo a dizer "só paneleirices..."), sintam com isto que os valorizo milhões. Obrigada por escreverem!

27/10/2012

Scar Tissue, de Anthony Kiedis


Man... Isto foi muito bom.
Se a minha apreciação geral foi influenciada por eu ser doida por este homem? Siiiim...
Se compreendo as críticas que li que diziam que aquilo é repetitivo e sem grande estrutura, apenas uma sucessão de "then this happened, then this happened, but this had happened in the meantime and then this happened"...? Compreendo perfeitamente, embora não o tenha sentido assim.
Se a minha opinião seria a mesma caso eu não fosse doida pelas músicas dos Red Hot? Provavelmente não.
O que gostei mais? De perceber o processo criativo que está por trás de alguns dos grandes álbuns desta banda genial e a inspiração para algumas músicas. As letras escritas pelo Anthony têm muitas metáforas e muitas referências sublimes ao mundo das drogas, ao amor e ao sexo, aos amigos: elementos que estiveram sempre muito presentes na sua vida, que lhe deram momentos de euforia e bem-estar mas também muitos momentos miseráveis e degradantes.
Para quem gosta dos Red Hot, para quem quer perceber um pouquinho melhor de onde toda esta exuberância veio, do que significam verdadeiramente algumas das melhores músicas que eles produziram, para quem quer conhecer um exemplo daquilo que uma pessoa não deve fazer/ser, ao ponto de criar uma relação amor-ódio com este ídolo hedonista e caprichoso, imaturo e imprudente, bondoso, humilde e despretensioso... que conheceu e cantou com os Nirvana e os Pearl Jam, que teve uma paixão desenfreada por todo o tipo de mulheres e deixa uma bênção e um obrigado a todas elas, independentemente do que causou a sua separação, que conversou e apertou a mão do Dalai Lama, que partiu as costas por saltar de uma varanda para uma piscina e acabar por cair no lado de fora, que ficou com a mão direita desfeita por um acidente de mota, que viu alguns dos seus melhores amigos morrerem jovens e estupidamente... Este é um ídolo verdadeiro. Um que é igual a nós, ou mais miserável ainda mas que, apesar disso, teve a força e a perseverança de emergir e buscar conforto fazendo-se ele próprio conforto para aqueles que passaram pelo mesmo ou, simplesmente, para os que o ouvem, através de milhões de CDs vendidos. Um herói tão verdadeiro que admite não se arrepender do caminho que calcorreou, da experiência de vida e histórias incríveis (improváveis, até) que, com toda a humildade nos conta, num tom muito simples e ligeiro.
Em suma, e porque o post já vai longo, é GRANDE livro.

nota: li a versão em inglês, porque nem sei se existe traduzido para português...

23/10/2012

Ontem ouvi...



"És um amor.
Estão a bater-te e tu pensas que é a brincar..."
vindo de uma voz leve, séria e acariciadora.

Hesitei.
Depois ri.
Depois, mais tarde, pensei no assunto.
Fiquei incomodada. ISTO É UM ABR'OLHOS!

Hoje voltei a pensar no assunto.
Olhei bem nos olhos da pessoa que me falou assim.
...e decidi reconciliar-me comigo.
Não é ideal. Mas é o que se arranja.




21/10/2012

A Manta


Todos temos uma manta. Aquela da infância era fofinha, felpuda, tinha o nosso cheiro e nós usámo-la até os cantos começarem a desfazer-se e as cores serem irreconhecíveis.
A manta protege-nos do frio. E dos papões. Basta puxá-la até nos cobrir a cabeça, segurá-la com força, prender o fundo com os pés, entalar os lados debaixo do corpo. Estamos hermeticamente protegidos e dormimos sossegados.
E é horrível o dia em que nos vêm dizer, ou descobrimos por nós próprios, que a manta... é só uma manta. E que, se o frio aumentar, nós vamos congelar, apesar dela. E que, se os papões vierem mesmo, muito facilmente eles nos arrancam da nossa protecção fingida.
O que será de nós, quando isso acontecer?
E, enquanto não acontece, como poderemos continuar a apreciar a nossa manta e a dormir descansados com ela?

14/10/2012

Apontamentos...

Às vezes penso que sou solitária porque não acredito que alguém possa gostar de mim sempre.
A maior parte das vezes penso que sou solitária porque sou incapaz de gostar dos outros sempre.

O futuro é mais fácil de encarar se estiver longe, tipo "ah e tal, daqui a um ano ou dois, coiso..."
O futuro é assustador se tivermos que o colocar a curto prazo, tipo "daqui a uma semana aquilo que hoje é o meu futuro incógnito vai estar a acontecer".
O futuro assim colocado assume o papel de mãe que nos apanha em flagrante a comer Cola Cao às colheradas.

Naquele limiar do sono, em que ainda nos apercebemos dos sons e luz à nossa volta mas já não os conseguimos "processar" ou reagir, imaginei/sonhei que morria, que via uma cova... Eu, morta, via uma cova. E só pensava "vai estar escuro ali dentro e vou estar lá muito tempo... se ao menos tivesse alguma coisa para fazer, para não me aborrecer"... Vagamente pensava que a minha mãe devia estar muito triste mas a minha principal preocupação era aborrecer-me pelos séculos dos séculos... nem ao menos um livrinho...!
Arrepiei-me quando me lembrei deste "sonho".

11/10/2012

"O Ditador"


Vi hoje...
...sim, já sei que venho tarde, mas também nunca ninguém me ouviu dizer que vejo os filmes todos logo que saem, ainda quentes...

A minha apreciação?
Ficaram a doer-me os maxilares e até fiquei com dor de barriga e costas... de tanto me rir, entenda-se...

09/10/2012

Ping'Amor Por Aí


Pois hoje Pingou Amor aqui para os meus lados... Não fui eu quem encontrou o Pingo, mas a pessoa que encontrou encarregou-me a mim de lhe dar seguimento, porque não é muito dada a essas coisas... De qualquer forma, cumpriu a sua missão de deixar um sorriso nos lábios de toda a gente que o viu!

Em dias cinzentos como os que temos tido, em que me é difícil respirar por tantos motivos, em que me comovo com tudo, em que me assusto por nada... foi apaziguador...

06/10/2012

Apetecia-me mesmo.... #12


...que chovesse desalmadamente.
Uma chuva torrencial, constante, daquela que torna baças as luzes, que faz parar os carros e deixa as ruas desertas. Daquela que faz do alcatrão uma superfície negra com reflexos de espelhos.
Que caísse primeiro num sussurro e que fosse crescendo, crescendo, até se transformar num rugido. E que a terra, aliviada da seca, soltasse um longo ahhhhhhhhh..., audível só àqueles que, como eu, soubessem apreciar a chuva.
E que houvesse relâmpagos luminosos e, 4 segundos depois, a trovoada... uma trovoada que fizesse vibrar paredes e calasse o chinfrim dos pássaros que gritam lá fora, nas árvores. Uma trovoada daquela que faz toda a gente encolher-se e que me leva, a mim, para a janela...
Trovoada daquela que faz a minha avó dizer:

Santa Bárbara se levantou,
Seus sapatinhos calçou,
Ao caminho se botou
E encontrou um menino que lhe perguntou:
Onde vais, Bárbara?
"Vou espalhar a trovoada,
Lá para a Serra do Marão,
Que não dá palha nem grão,
E onde não há meninos a chorar,
Nem viúvas a rezar..."

Não me lembro do fim... nem sequer sei se as palavras são mesmo estas... Tenho que pedir à minha avó que mas dite...

03/10/2012

"Os Retornados - Um amor nunca se esquece", de Júlio Magalhães


O Juca esteve na semana passada na feira do livro cá da terrinha... Fui-me plantar lá para assistir à apresentação do "Não nos Roubarão a Esperança", com o objectivo de lhe ir pedir um autógrafo para uma colega que o adora e que não podia estar presente, já que a mim os seus livros nunca me despertaram interesse..
Fui... e gostei! Gostei de o ouvir, da simplicidade, do cómico despretensioso... de admitir simplesmente que foi convidado a escrever o seu primeiro livro porque, disseram-lhe, o que quer que as caras conhecidas da TV escrevam, as pessoas compram! Por isso, ele escolheu um tema que lhe era querido, que viveu, e sobre o qual muito pouco há escrito. Gostei de o ouvir gracejar acerca do facto de a editora o ter aconselhado a acrescentar ao simples título "Os Retornados", que ele tinha escolhido, a parte do "Um amor nunca se esquece", porque são as mulheres que compram livros e as mulheres gostam destes títulos assim... Gostei tanto de o ouvir  que, no final, fui a correr comprar o livro "Os Retornados" e lá fui pedir dois autógrafos: um para mim, que confessei humildemente ainda não ter lido nenhum livro dele, e outro para a colega Lu.
Escolhi este livro, entre todos os que ele escreveu e que resumiu durante o seu discurso, porque é o primeiro, porque trata o tema doloroso e recente da Ponte Aérea feita em 1975 entre Portugal e Angola e porque me quis parecer que foi o livro do qual ele falou com mais carinho.
E não senti as minhas expectativas defraudadas... Ele garantiu que os seus livros não eram literatura. Ele é um jornalista que escreve, logo, as suas histórias são contadas de forma muito simples, os acontecimentos vão-se sucedendo e o intimismo com que são revelados é delicioso e absorvente.
A história é comovente de todas as formas: pelo período conturbado que retrata, pelas personagens cativantes que são inspiradas em pessoas reais, pelos pormenores lindos que são revelados acerca daquela pérola do Império Português que foi brutalizada e destruída, por mostrar a verdadeira história dos "retornados", que nós, no continente, sempre desprezámos.
A Joana e o Carlos Jorge existem. Há milhares deles por aí... Cada um com a sua própria história e a sua adaptação dos ovos com açúcar... mas são tão reais. Tão lógicos. É um livro maravilhoso. Muito doce! Que se lê a correr, porque praticamente não o lemos: ouvimo-lo, numa voz interior que, comovida, faz uma partilha... Aconselho! Muito!

02/10/2012

Amazing moments in life

Às vezes penso que há algo de errado comigo...
Não penso que sou única, mas penso que sou parte da minoria, sou parte do grupo de poucas pessoas que não querem (ou não sabem) VIVER com os outros.
O meu convívio com os outros faz-se em minutos bem precisos e contados, em certos locais e contextos e um deslize para fora desses limites deixa-me, às vezes, desconfortável, outras vezes, em pânico.
Às vezes penso que me falta algum químico no sistema, alguma ligação no circuito, que me faz tão singular. Tão incapaz de ser NÓS num par ou no meio de um grupo; ser sempre Eu e os Outros.
Como se fossem extraterrestres, todos. Ou eu... como se fosse eu a extraterrestre e não me possa desconcentrar em momento nenhum, dar nenhuma resposta errada, fazer nenhum gesto estranho, destacar, sob pena de ser descoberta, exposta, devassada...
Há dias em que penso que há algo de errado comigo mais insistentemente do que noutros... Hoje é um dos dias mais...
E eis que, já a preparar-me para me recolher (uma das minhas horas favoritas do dia!), a internet me atira com esta: 

(imagem retirada daqui)

...e dei-me conta que, nesta lista, só 4 pontos estão directamente dependentes de outros..
E comovi-me. Comovi-me até às lágrimas, por ridículo que possa parecer... porque, afinal, a monotonia inóspita que é a minha vida deve-se, afinal, ao facto de eu saber aproveitar maravilhosamente os meus momentos sem ninguém. Isso preenche-me. Isso faz com que eu não sinta (quase nunca) falta de gente à minha volta..

E, quando sinto, normalmente sento-me e espero que passe...