29/06/2013

Unmerciful me

Atingiu-me, qual raio epifânico (será que existe esta palavra? Epifânico...)... Enfim, um raio que traz uma epifania, a ideia de que tenho tralhas lá nos meus domínios, aka meu quarto, nas quais não mexo há mais de dez anos, salvo para lhes limpar o pó, de meio em meio ano... Coisas que guardei "para um dia, mais tarde, quando tiver tempo, ler/vasculhar/recordar...".
Mas o dito raio chegou e, com ele, a ideia de que voltar a mexer naquelas coisas significaria que a minha vida estagnou e que eu, em vez de ocupadíssima a viver, estarei ociosa e com vagar para recordar, quiçá soltar uma lagrimazita saudosa.
Portantos, e dado que recuso a ideia de que voltarei ao marasmo e que há tantos sítios onde ir e livros para ler e caminho para andar, atirei 40kg de livros e cadernos escolares do tempo do secundário para o papelão. Levei toda uma tarde a tirá-los do quarto, espanejar e preencher com outras coisas o espaço que eles ocupavam, debaixo da minha cama. E estou decidida a, nas próximas folgas, continuar com esta onda implacável de asseio e desprendimento do que é peça de museu.
Gosto. Gosto disto.

10/06/2013

E, mais uma vez...


...o Amor.
O Amor é como um bilhete da lotaria. Podes não o merecer. Podes ter comprado uma centena deles e não receber prémio. Podes comprar um, só porque achaste graça ao pregão do senhor que os vende e sair-te a sorte maior. Podes até nem ter comprado nada e encontrá-lo no chão, fugido da busca de alguém para te premiar a ti e ao teu desinteresse.
Pode ser oferecido. "Toma, este bilhete é teu. Comprei-o e dou-to, o que sair aí é teu. Podes ficar milionário/a, ou podes ficar na mesma mas pelo menos ficas com a certeza de que eu te dei uma hipótese".
É uma lotaria, nada mais. Às vezes sinto-me envergonhada por ostentar a minha fortuna quando nada fiz para a procurar ou merecer. Outras vezes sinto-me inquieta, como quando temos o bilhete e estamos a ver a extração à espera de sabermos se temos os números certos ou se a busca terá que continuar.
Uma lotaria, afinal. Tão simples... e tão complicado, aleatório e frágil quanto isso.
Neste momento em que me sinto excêntrica e milionária, não me apetece pensar que a fortuna se possa esgotar e que tenha que voltar a comer migalhas. Estou a ficar mal habituada, é o que é...

08/06/2013

"O Prisioneiro do Céu", de Carlos Ruiz Záfon


Depois de muitas críticas menos positivas lidas acerca deste livro, lá me atirei à leitura... Porque me foi oferecido e, normalmente, não me deixo influenciar muito pelas críticas que ouço.
Disse-me uma certa e determinada pessoa que os meus gostos literários são muito próprios, muito meus, não vou em ondas ou opiniões alheias e gosto do que os outros estranham... Acho que foi das caracterizações mais bonitas que já fizeram de mim... Hum...... (sorriso babado....) Anyway...
 
As críticas menos boas a este livro resultam, quis-me parecer, da comparação entre este e o primeiro romance de Zafón, "A Sombra do Vento", do qual já aqui falei, em termos não muito abonatórios, diga-se... O primeiro, foi um livro que não me conquistou por aí além... Este, embora reconheça que não é um livro tão grandioso ou ambicioso, deu-me mais gosto. Provavelmente por algum estado de espírito.
Os pormenores sórdidos, nomeadamente no que respeita às perseguições aos opositores do regime de Franco e condições de vida (ou morte) nas prisões, estão ao rubro, e aparecem intercalados por imagens fofinhas e amorosas... Mais uma vez, desagrada-me fatalmente o facto de o livro se tratar apenas de uma mega-analepse, em que o nosso caríssimo Fermín Romero de Torres conta ao amigo Daniel a história da sua captura, estadia na famosa prisão de Montjuïc e plano elaborado de fuga...
Enfim... que dizer? Enquanto passatempo, não foi nada mau. O que me ficou, muito pouco... Nhêêêêê...

05/06/2013

Crise de identidade

 
Coisa nunca antes vista... Eu. A je... "muá méme", como dizem os franciús, ando um bocado tristonha porque não me reconheço.
Eu era uma série de coisas. Essas coisas definiam-me. E eu gostava de ser particular e estranha e ter hábitos e gostos e necessidades que mais ninguém partilhava ou entendia. Era a minha vontade de isolamento. Era a infinidade de livros que lia. Era as músicas que eu ouvia e que interpretava só para mim. Era a fileira de personagens imaginárias que me faziam companhia, desdobramentos da minha personalidade, ora afável e madura, ora traquinas e infantil. Era eu ser zen e hedonista e calma e animal de rotinas. Eu era singular e dizia sempre "eu". Era sempre disponível e não fazia parte de nada, porque não tolerava também que ninguém fizesse parte de mim. Andava pela casa com um apanhado de cabelo esquisito e saía à rua ora arranjada, ora com ar de esfregão... não importava a ninguém.
E hoje olho para trás e sinto certa nostalgia. Porque eu era inconfundível. Tinha inaugurado o meu próprio estilo de vida e gostava... Mas agora sou uma entre tantos outros; tenho alguém, como toda a gente; faço as mesmas coisas, tenho as mesmas necessidades e rotinas, dou a mão, como outros dão; digo "amo-te" como tantos outros dizem, há séculos...
Não estou arrependida. Não trocava o que tenho agora por voltar a ser quem era. Mas gostava dessa outra EU. Gostava de poder falar-lhe, daqui. Dizer-lhe: "não temas, pequenina. Tu és suficientemente boa, és suficientemente capaz, o que tens é belo e o que és é digno. E não vais ficar só para sempre. E morrer hoje ou daqui a 50 anos não é indiferente. E as músicas que ouves e que falam de perfeição não são utopia nem são só para outros. Tu vais tê-lo também. E vais saborear e o medo de cair não te vai paralisar. Este tempo é teu, e as coisas que tens são tuas. Aproveita-as. Ri. Virá o dia em que o teu tempo será partilhado e as tuas coisas serão divididas com outros por tua livre vontade. Não temas. Girl...you'll be a woman soon..."