28/01/2014

Estou zangada

...e isso não tem nada de mal, certo?
Dou-me conta, nestes dias em que estou em "modo esfregão".... Já falei disto aqui, certo? Modo esfregão. Há dias em que uma pessoa se sente bem, bonita, capaz... E há dias em que nos sentimos um esfregão, daqueles muito enxovalhados e gastos e repelentes... Tenho andado em modo esfregão. E passo um lápis negro sobre a linha das pestanas, de modo a levantar-me o olhar, ou um bâton garrido que desvie as atenções do meu rosto pálido... Mas, ainda assim, estou em modo esfregão.
Dizia eu, então, que nos dias em que estou em modo esfregão apercebo-me com terror da fragilidade de tudo.  Não sei... Como se estivesse a usar óculos demasiado graduados, que me fazem ver mais do que queria e me deixam com náuseas ao mesmo tempo. Quase consigo ver o sentido das coisas, da própria Vida, e esse sentido resume-se a nada. Somos formiguinhas. Minúsculas e pouco inteligentes, ridículas na nossa azáfama, na nossa rotina que alguém se lembrou de criar e que vamos seguindo de forma mecânica, muito pouco inteligente. E acho tudo insuportável. Tudo ridículo. E eu, mais ridícula ainda, por não conseguir misturar-me. E tenho medo das pessoas. Um medo cego e irracional. Medo da sua simpatia e mais medo ainda da sua crueldade. Não me zango. Tenho medo de me zangar com as pessoas, medo de queimar pontes. Perco a noção do que me pertence por direito e daquilo que ultrapassa esse direito e onde eu deveria ceder. Sei que estou em desequilíbrio e isso destrói a confiança que tenho nas minhas próprias emoções e razões.
Então, estou zangada. Estou zangada com as pessoas que conheço e que me desiludem, com as pessoas que fazem disparates, que são mesquinhas ou más... Estou zangada porque a alternativa a isso é ficar triste... E acho que já andei triste tempo de mais. Seja zangada, então.

24/01/2014

"Onde Crescem Limas Não Nascem Laranjas", de Amanda Smyth


Comprei o livro em 2010... Sim, a sinopse agradou-me mas confesso, envergonhada, que me deixei levar assim que vi a capa... =)

Na altura, a leitura revelou um livro frouxo, como acontece tantas vezes. As ilhas de Trindade e Tobago são o palco onde se desenrola a história. Celia foi criada pela tia Tassi, porque a sua mãe morreu ao dá-la à luz e o pai é um inglês que nunca a conheceu. Sentindo-se sempre desajustada daquela vida, sonhando com o pai e uma vida em Inglaterra, decide fugir de casa, na aldeia de Black Rock, em Tobago, depois de ter sido violada pelo tio, um homem cruel e alcoólico. Parte para Trindade e ao longo do livro vamos acompanhando os seus dias, o trabalho, a descoberta do amor, das suas alegrias e da infelicidade do abandono... Sempre com uma previsão dada pela velha adivinha da aldeia a pairar sobre a sua cabeça como uma nuvem negra: o seu destino seria infeliz; quem amasse, iria partir-lhe o coração, assim como ela partiria o coração de quem se interessasse por ela.
Voltei a lê-lo nestes dias. Tinha a firme convicção de que me desagradaria igualmente e o destinaria a alguma venda ou troca pela internet. Mas soube-me bem!
A narrativa é lírica, quase noveleira. Encanta a descrição da natureza do arquipélago, das plantas, do calor, do quotidiano dos trópicos. Embora a heroína não desperte particular admiração ou empatia, fui-lhe seguindo os passos com certo interesse e compadeci-me do seu infortúnio. Quem sabe? talvez me tenha comovido por agora, ao contrário da primeira vez que li, saber o que é ter um amor e sentir o terror de o ver desmoronar? quem sabe?
Para já, não o vou vender ou trocar. Vai continuar na minha estante. A sua bela capa.

12/01/2014

"Ele está de volta", de Timur Vermes


Adolf Hitler acorda num baldio no meio da Berlim contemporânea, meio desorientado e com a farda a cheirar a querosene. Rapidamente se apercebe que algo de muito estranho aconteceu porque não há bombardeamentos ou ruínas; é ajudado pelo dono de um quiosque ali perto, que pensa tratar-se de algum vagabundo que se desentendeu com a mulher, embora se pareça muito com certa personagem histórica, até nos modos, e aquela farda que não lembra a ninguém...E assim começa esta história, narrada na primeira pessoa.
Desconheço os pormenores da vida de Hitler, mas li que o livro está muito bem escrito, num estilo que se assemelha ao do Mein Kampf , tornando-o arrepiantemente verosímil.
E é mesmo assombroso eu ter acabado por "simpatizar" com este herói involuntário que vê na segunda "oportunidade" que lhe foi dada de cá vir a prova de que ele iniciou uma demanda que só ele próprio pode concluir, desta vez servindo-se das tecnologias, a televisão e a internet. Nunca assumindo abertamente a sua verdadeira identidade, deixa as pessoas pensarem que é um comediante que leva o seu papel de interpretar o führer demasiado a sério e, num tom meio brincalhão, meio de mau gosto, vão sendo partilhadas connosco as interpretações que ele faz do modo como vivemos hoje, desde as nossas relações pessoais, até à economia europeia e a revolução tecnológica. É um livro de duras críticas e ironias aos nossos dias, feitas por um homem que, historicamente, cometeu das maiores atrocidades na tentativa de criar a raça e o mundo perfeitos.
Apesar disso, merece respeito por ser uma análise cuidada e quase minuciosa dos aspectos ridículos com que estamos habituados a lidar no nosso dia-a-dia, sobretudo no que respeita à falta de seriedade ou carácter da classe política.

11/01/2014

o que fazer?

... o que fazer quando uma situação que estava ultrapassada regressa para nos assombrar?
O que se faz quando, após uma escalada longa e laboriosa, um pé escorrega e perdemos uma parte grande da altura que conseguimos tão alegremente conquistar?

Por mais que eu queira chorar e desistir de lutar contra o impulso de tremer, sei que a resposta correcta é: NADA. Não se faz nada. Não se olha para baixo, não se vê que estamos próximos do chão outra vez. Continua-se a olhar para cima e, agarrado à ideia de que não foi tanto assim o que se perdeu, retoma-se a subida para recuperar o mais rapidamente possível do deslize. Não se faz mais nada. Não se desce até ao chão e à segurança para ficar em posição fetal e tentar esquecer que vimos as alturas. Nem se fica imóvel no meio do nada, demasiado teimoso para descer e demasiado medroso para continuar a subir. Então, se não se desce nem se fica no mesmo sítio, para cima é que é caminho. E as mãos podem arder do esforço e o corpo pode acusar o cansaço, mas ambos têm determinação para continuar; mais um bocadinho. Mais o que for preciso.

Então, eu não vou fazer nada. Talvez chore, por uma questão de revolta e descompressão. Mas de resto, nada.