29/12/2015

Mais uma comparação para a ansiedade

Uma mente ansiosa é como um carro sem travões.
Esforço-me muito por tentar explicar e encontrar comparações ou metáforas para a ansiedade, porque tenho noção que seja muito difícil compreender por quem está de fora. Por quem nunca viveu uma crise de ansiedade ou pânico sem motivo racional, pelas pessoas que dizem "acalma-te" ou "não te preocupes, não penses nisso". Cheias de boas intenções, mas é inútil como tentar reter uma maré com uma muralha de areia.
Às vezes, a ansiedade é como um carro sem travões. Estamos ao volante mas não temos controlo nenhum porque os nossos pensamentos, tal como o carro, seguem desgovernados, velozes, caóticos... Cada pensamento mais aterrador ou paralizante que o anterior, cada vez mais esmagadores e asfixiantes. E vamos seguindo, em pânico total, à espera que a qualquer momento, uma curva apertada ou uma ribanceira nos derrube de vez. Sem controlo, sem conseguir abrandar e sair. E sem hipótese de alguém interferir a nosso favor.
E depois, como um milagre, uma inspiração de ar mais profunda ou uma ideia nova e tranquilizante saída nem se sabe de onde, surge e faz o carro abrandar. Continua-se com os travões a falhar, mas pelo menos recuperou-se o controlo do carro, pode-se tentar escapar para uma estrada mais segura, onde seja menos provável voltarmos a ver-nos sem controlo. Há sempre o medo, mas um milagre resgatou-nos. Às vezes, este milagre acontece. Outras vezes segue-se e só um grande choque, que deixa sequelas e lembranças tristes, nos pára a marcha descontrolada.
Não é fácil. Toda a gente sabe que não é fácil. Mas só cada um sabe, dentro de si, como é difícil e penosa a sua caminhada.
Neste final de ano eu desejo de todo o coração que toda a gente tenha sempre cada vez mais controlo do seu "carrinho", que a vida seja feita de momentos serenos e felizes. Tudo o resto vem por arrasto, logo que haja serenidade no nosso coração.

(para quem se lembra que no dia 21 escrevi acerca da possibilidade de ver o meu pai... Ele veio, quis ver o corpo da mãe. Mas nem o vi, nem telefonou para marcar encontro comigo e a minha irmã. Não nos quis ver. Melhor assim...)

26/12/2015

Sweet Charlie Brown...


"Linus, I can't talk with that little red-haired girl. She is really something and I am nothing. If I was something and she was nothing, I could talk to her. Or if I was nothing and she was nothing, I could talk to her. But she is something and I am nothing, so I can't talk to her." Charlie Brown

Identifiquei-me... meu querido Charlie Brown... somos tão parecidos...

21/12/2015

Ontem fiz 29 anos e a minha avó morreu

Foi um dos dias mais estranhos do universo. Do meu, pelo menos.
Primeiro porque o aniversário é sempre uma data que me causa alguma tensão e ansiedade... Não gosto de surpresas nem de ser o centro das atenções, e já há anos que esta data não me é muito querida.
A avó já estava no hospital há 5 dias. Fruto de uma queda mas, com quase 90 anos, um pouco de febre e uma infecção pulmonar das que são comuns nesta época, acabou por falecer ontem. A avó que eu já não via há meia dúzia de anos, mãe do meu pai, causadora de muitos desentendimentos na família e que foi muito maldosa com a minha mãe aquando do divorcio dos meus pais, há 8 anos. Ontem, no velório, estive na mesma sala com pessoas, tios e primos que não encarava há anos. Pessoas más, por quem tenho nenhum carinho. O meu pai está no estrangeiro e vem hoje de avião para ainda tentar ver a mãe antes de ser enterrada. O que significa que talvez seja hoje o dia em que revejo o meu pai, ao fim de 8 anos.
É tudo um bocadinho intenso. Os nossos rituais da morte são prolongados. Um corpo velado durante horas. Um par de tias carpideiras que gemem e gritam ruidosamente para que todos possam apreciar como sofrem. A possibilidade do meu pai a pairar. Estou só ansiosa que estes dias passem para que possa ter a minha rotina de volta.

Durante o velório ontem, olhei muito para as mãos dela. São sempre o que mais me impressiona, pela cor de cera baça que ganham. E senti alguma inveja de uma prima, que chorava no ombro do pai. Um pai que tem certas parecenças físicas com o irmão, meu pai, e de cujo amor paternal eu senti alguma inveja. É tudo excessivo, mas em breve estará terminado...

15/12/2015

Ser "caseirinho"

Há uma subcultura incompreendida e muitas vezes rotulada de forma preconceituosa... É a subcultura dos "caseirinhos". Pessoas que não gostam da confusão dos cafés, da música alta e confusa, da mistura de vozes e conversas, do ar respirado por muita gente...

Às vezes, raras vezes, combino algum encontro social, um jantar ou café e o meu desconforto e enfado aumentam na medida em que aumenta o grupo e a confusão. Ao sair de casa, a minha mãe diz-me cheia de boas intenções "diverte-te!", e eu digo para mim mesma "diverte-te! faz esse esforço! é isso que é esperado e suposto que aconteça"... mas venho embora no final do encontro com uma ligeira sensação de que perdi tempo longe do sofá e da manta ou de uma caminhada solitária ou apenas com uma ou duas pessoas pacatas.

Os "caseirinhos" são considerados pães sem sal, eremitas, anti-sociais, antipáticos, traumatizados ou pessoas sem vida, opinião ou nada de útil para dar à sociedade...
Há "caseirinhos" patológicos. Por medo, fobia ou outra razão profunda evitam os ambientes mais concorridos. Às vezes é o medo que me move também, e me faz ficar em casa.
Mas a maior parte das vezes é mesmo o prazer. Se o sossego é o que me dá prazer e serenidade, já chega de ser julgada, de me julgar a mim própria, por não ser mais normal e gostar do que as outras pessoas gostam.

Sou caseira.
Acho que isso não vai mudar. E não me importo.

12/12/2015

Pensamentos obsessivos

Na minha mente surgem muitas ideias; sobre quem sou, sobre os meus sentimentos, sobre as pessoas que amo... Surgem dúvidas, medos e pessimismos... E, em vez de os sacudir de cima dos ombros, como se de caspa se tratassem, por serem irreais, por serem algo que não quero alimentar, eles surgem e o medo daquela possibilidade imaginária paralisa-me, como um animal encandeado por faróis... Fico paralisada na sua contemplação e cresce em mim a ansiedade acerca do futuro dali a 5 minutos assim como dali a 5 anos.
Comecei ultimamente a ter medo dos meus pensamentos, porque sei que se por um acaso eles saem do caminho "bom", se uma má memória ou um mau receio me assaltam, cresce um princípio de pânico, de inevitabilidade. E uma urgência de agir, de fugir.
Penso, às vezes, que li demais. Pensei demais. Vi perspectivas a mais e agora faço instintivamente uma ligação entre as histórias dos outros e a minha própria. Comparo demasiado. Espero encontrar nas coisas que vi, histórias que li e opiniões que ouvi, a medida do que é certo e normal e aceitável. O que não cabe nessas medidas causa-me pavor de tomar a decisão errada e fazer um juízo injusto. Tranquiliza-me ligeiramente lembrar uma frase que encontrei uma vez por acaso neste vasto mundo que é a internet, e que dizia que um dos principais motivos para a depressão/tristeza das pessoas é compararem os seus "bastidores" com as melhores cenas dos outros. Esta frase veio em boa hora e ressoou em mim de forma tranquilizadora.
Um ditado chinês diz que não podemos impedir as aves do desassossego de voar sobre a nossa cabeça. Mas podemos impedi-las de fazer ninho nos nossos cabelos. Eu estou a tentar mexer-me para os afugentar; às vezes parece que os meus braços estão paralisados. Outras vezes parece que até os mexo e afugento algumas mas, por serem tantas, há uma ou outra que me conseguem iludir.

Tenho tido muitas vitorias também. Quase todos os dias há uma ou mais pqueninas vitórias insignificantes e invisíveis para toda a gente mas que me aquecem o coração e pelas quais agradeço nas minhas orações, à noite. Agradeço a Deus, ao Tao (que na cultura chinesa é a entidade que ordena o universo e que está em tudo o que existe), às energias... Seja lá o que for que governa tudo isto. Agradeço a mim mesma também, por ser o que sou e por tentar ser melhor.

05/12/2015

Venho escrever ao fim de todo este tempo para dizer que sou a mesma... Tanto treino, terapia, acupuntura, tempo, fugas, dores... Mas de um momento para o outro é só a ansiedade ou o pânico ou que nome possa ter esta emoção irracional, descontrolada e subjugante... Todos os dias são de luta, em que agradeço a ausência dos medos e me admiro quando ocasionalmente consigo vivenciar alguma coisa com serenidade. Sou tocada por alguma ponta de angústia em algum momento, e aí tento metodicamente, das mais diversas formas, contornar, esquecer, vencer ou fugir do motivo dessa intranquilidade.
Mas o que fazer quando ela ataca durante a noite, e não nos deixa dormir?
À noite tudo parece maior, e eu mais pequena. O silêncio interpela-me e acusa-me. E eu tremo de forma intensa, mas sem ter frio.
Tento dizer-me que o cansaço acabará por vencer, vou adormecer e amanhã esta sensação e estes medos serão apenas como a lembrança de um sonho mau. Mas como são longos e dolorosos os minutos ou horas que dura este sonho...!