26/12/2016

Nos filmes e livros, e mesmo na vida, admiro as personagens grandiosas, não necessariamente as principais. As personagens a quem se adivinha uma grandeza de espírito, uma nobreza no carácter, que imprimem alegria a tudo o que fazem, gratidão por todos os momentos, que iluminam as cenas em que aparecem... Aprecio sempre, sobretudo, as personagens solitárias, as lutadoras, as que têm História, as que enchem uma cena, mesmo estando sozinhas, pela sua presença, pelos seus monólogos. Personagens que valem por si, que não precisam da bajulação submissa das outras para que seja evidente o seu protagonismo. Admiro o romantismo melancólico da sua solidão e da sua tristeza, porque são momentâneos e enriquecedores e são como o recuar do mar, a preparar-se para regressar numa nova e grande vaga. Aprecio todas estas personagens.
Agora tenho só que imaginar que eu sou uma delas. Se elas são inteiras quando sós, também eu sei sê-lo.

18/12/2016

"as coisas vulgares que há na vida não deixam saudades"

...as especiais, as que nos elevaram acima do que alguma vez poderíamos ter sonhado para nós, sim. Mesmo que as vejamos definhar e morrer lentamente, mesmo que tentemos com perseverança agarrá-las e recuperá-las, mesmo que sejamos nós a ver que não há esperança de retorno e pratiquemos uma "eutanásia" piedosa, cortando o laço, deixando a outra pessoa ir, pedindo à outra pessoa que nos deixe a nós... mesmo que isto tudo, a saudade fica e morde e magoa.
Dizem-me que é normal a saudade, normal a pena, o sentimento de perda. De dois caminhos que se fizeram juntos durante algum tempo e agora se separam, e de molduras que mostravam dois sorrisos numa fotografia, agora substituídas por um sorriso solitário.
Há uma melancolia que caminha comigo nestes dias mas que não me submerge; esforço-me por me manter à tona, por pôr em prática o que tenho aprendido acerca de mim e dos outros e da força que tenho.

No one can travel into love and remain the same.

Eu não estou a mesma, e faço agora esse caminho de descoberta de quem sou agora, do espaço que ocupo e do que me fará novamente feliz.

04/12/2016

"my love has gone"

... E hoje matei duas aranhas que se podem classificar como pequenas mas para quem lhes tem fobia, com eu, se podem considerar de tamanho razoável. Matei-as. Noutra altura teria fugido e gritado por ajuda. A minha mãe comentou a sua incredulidade. Respondi-lhe "estou tao insensível por dentro que já nem consigo assustar-me".
Ela arregalou-me os olhos e exclamou muito alto "estás é forte, burra!" ...sendo que este "burra" é cheio de amor, eu sei.

29/11/2016

O vulcão que há em nós

Mais ou menos violento, mais ou menos activo, mas há um vulcão dentro de cada um de nós, que estremece e lança fumo ou lava doce e regularmente... Ou então que parece adormecido ou extinto durante tanto tempo, para depois se revelar inesperadamente, com violência.
Tenho estado pacífica, nos meus exercícios mentais de arrumar o excesso de recordações e de peso, de transformar, como com fotoshop, as recordações más para não me sentir tão abalada quando elas emergem... Mas do nada às vezes vêm memórias e ideias... E eu verifico que a natureza doce e passiva que tenho é ainda a mesma que foi forjada durante tanto tempo, quando tinha que ouvir desculpas ridículas do meu pai para a violência que exercia sobre nós. Desculpas relacionadas com os pais, que não o amaram, os irmãos, que não o trataram bem, o trabalho, que era duro, o álcool que o escravizava, a minha mãe, por não ser melhor esposa... E eu tinha que ouvir tudo aquilo, acenar que sim, que compreendida, e garantir-lhe que sim, que eu era a amiga dele, que gostava dele e que sabia que nada daquilo era culpa dele. E por fim, tinha que dar-lhe um beijo, tentando ignorar o cheiro de suor e de álcool que o rodeava. E reforçar que sim, eu gostava dele.
Quanta pequenez eu assumia, quanta revolta silenciada.
E do nada lembrei-me disto agora. E choro aflitivamente, para libertar esta emoção, esta pena de mim. E tento pensar na forma inteligente e sã de me erguer daqui. De guardar isto numa caixa. Ou de libertar isto ao vento, como se de pó se tratasse. Como se faz para largar isto e para descolar da minha pele esta maneira de ser que responde docilmente a tudo, não de uma forma racional, não por uma decisão tomada; mas por reflexo, ou instinto. Irracional, de tao entranhado que está.

25/11/2016

"Estado de Ser"

Aprendi este conceito recentemente... num livro chamado "Como Criar um Novo Eu" que, como o nome indica, fornece esclarecimentos algo complexos acerca de como as nossas experiências e vivências e pensamentos constroem uma forma de ser com a qual somos coerentes durante a maior parte da nossa vida. O "padrão" ou sequência mental de activação de certos sentimentos ou reacções é memorizado pelo nosso cérebro e passa depois a ser automática a nossa reacção igual a estímulos semelhantes, o que equivale a dizer que todos nós desejamos uma mudança na nossa vida mas continuamos a AGIR e REAGIR e SER iguais. E todos sabemos que fazer o mesmo e esperar por resultados diferentes é algo estúpido.
"O hábito mais difícil de vencer é o hábito de sermos nós próprios". O Dr. Joe Dispenza, autor do livro, desmonta este funcionamento e dá instruções para nos ajudar a construir uma nova identidade ou personalidade ou estado de ser ou algo nesta linha.
Este tal "estado de ser", explica o livro, resulta da estabilização daquilo que pensamos (o estado de espírito) e daquilo que sentimos, a um nível mais físico. Embora existam ligeiras variações quotidianas nestes indicadores, há um padrão que nos é mais frequente, ao qual voltamos por instinto, e que nos define, como quando dizemos que, no geral, somos pessoas mais preguiçosas, ou mais teimosas, ou mais tristes, ou mais ansiosas...

Chove muito, chove excessivamente... 
Chove e de vez em quando faz um vento frio... 
Estou triste, muito triste, como se o dia fosse eu. 

Num dia no meu futuro em que chova assim também 
E eu, à janela de repente me lembre do dia de hoje, 
Pensarei eu «ah nesse tempo eu era mais feliz» 
Ou pensarei «ah, que tempo triste foi aquele»! 
Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia 
E o que serei, de que forma; o que me será o passado que é hoje só presente?... 
O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste 
E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...

Há muitos anos que conheço e gosto deste poema de Álvaro de Campos. Me identifico. Penso nas mesmas questões que ele aborda... Tenho-o escrito em vários sítios, pendurado no meu quarto.
Apercebi-me que o meu "estado de ser", aquele que quero mudar, está patente neste poema. E é por isso que hoje o poema de Álvaro de Campos vai sair do meu quarto e, espero eu, da minha vida. Vou adoptar outros. Talvez um Caeiro sereno e bucólico. Talvez um Régio revolucionário e inconformado. Ou um Torga querido e contemplativo. Não conheço muitos... mas vou estudá-los e adoptar um novo estado de ser que não seja de dúvidas, de tristezas nem de medos.

09/11/2016

A cura continua...

...devagar mas certamente. É difícil fazer a mente descansar após tantos anos com o modo "alarme" e "medo" activados. E também é difícil, ao fim de quase dez anos de fugas às situações causadoras de ansiedade, medicações a camuflar sintomas e a deixar-me sonolenta, e terapias incompletas, esquecer o medo de arriscar, retirar a pressão negativa sobre alguma fragilidade, que parece logo ser um falhanço épico enquanto a gargalhadinha desdenhosa do Universo se faz ouvir, como que a dizer "hihihi... Pensavas que estavas livre disto..."
Assim sendo, um obstáculo gigante a ultrapassar é a nossa própria descrença.

Tomo uma decisão, saio do meu caminho, da minha rotina, aceito fazer algo diferente, é mais um passo. Lá vem sempre roer-me a serenidade o medo da reacção dos que me são próximos, de que me questionem, que não compreendam, que reprovem, que julguem que esse tempo lhes é retirado directamente a eles... Quando alguma censura a esse respeito vem, o instinto é responder "não pensei, não tive essa intenção, lamento". Hoje, porque tomei uma decisão diferente do habitual, voltei a sentir aquele medo, a resposta instintiva voltou a formar-se mas foi seguida de um pensamento inovador: "estou a fazer algo porque me apeteceu. Porque me pareceu ser bom, porque será bom para mim".

Algo tão elementar como o respeito por si próprio, a aceitação de si próprio, em detrimento dos outros (que, na verdade até nem estão a ser prejudicados em nada) está a crescer em mim.

22/10/2016

Ontem à noite fui caminhar... É a minha época favorita para caminhar, esta mais fria. Agasalho-me bem e sabe-me melhor caminhar com pressa durante 20 ou 30 minutos, perto do rio...
Fui sozinha, serena, e pensativa... E cheguei a mais uma conclusão em relação à ansiedade. Não só à minha, mas em geral. Cheguei à conclusão que, apesar de andar ultimamente bem, quando voltar a cair, porque é normal que em algumas situações eu fraqueje e caia... Quando voltar a cair, não será um regressar à estaca zero. Durante muito tempo vi as coisas dessa forma, como se o caminho percorrido entre uma crise de ansiedade e outra fosse uma escalada e, quando tinha uma crise mais forte e descontrolada, isso fosse uma queda na escalada, uma perda de altitude. Um retrocesso. Ter de começar outra vez. "estou há 35 dias sem crises. Hoje tive uma crise. Estou há um dia sem crises..." e recomeçava a contagem do início.
Tantos recomeços. Tantos retrocessos! Tantos fracassos.
Ontem percebi que não se trata de uma escalada. Nem sequer de um caminho, onde se pode recuar. Trata-se de aprendizagem. E, numa aprendizagem, nunca se volta para trás. Nunca se fica a saber menos do que se sabia. Tenho tido muitos dias de sucesso. Mas mesmo que venha um dia triste, ou de crise, eu tenho a sabedoria de já ter ultrapassado muitos iguais. Se mesmo assim hoje a emoção levar a melhor e eu não a conseguir controlar, eu tenho a sabedoria de já ter ultrapassado crises iguais antes. E não é esta "queda" que me vai fazer esquecer tudo o que já aprendi. É uma construção de experiência e nela nunca nada se perde, tudo se aproveita e ensina e faz crescer.

Pessoas ansiosas, ou depressivas ou com sindrome de pânico, não são pessoas fracas, ou desocupadas, ou loucas. São pessoas com um traço distintivo. Há pessoas com intolerância à lactose. Ou que não digerem o glúten. Nós somos pessoas que não digerem as emoções.
A maioria das pessoas sente a emoção, processa-a, toma uma decisão, age e segue em frente.
Eu, e tantas outras pessoas como eu, sentimos a emoção mas ela é tao forte, tao física, que não conseguimos facilmente processá-la, muito menos agir. Ficamos longos períodos na fase do "sentir". E é só esse o nosso problema. É só isto que nos faz infelizes. E é essa a aprendizagem que vamos fazendo, aos poucos.

08/10/2016

Dia dos cuidados paliativos

Não sou muito de assinalar aqui no blog os dias disto ou daquilo... Mas este fez-me cá vir. Tenho um sentimento muito forte quando ouço a expressão "cuidados paliativos". Já vi dois avôs beneficiarem deles. São cuidados que associamos a situações extremas, situações irremediáveis, em que se desiste da luta contra o mal, investindo no bem-estar e conforto da pessoa que padece, enquanto consegue resistir. Mas nem sempre estas doenças são fulminantes ou muito "activas"; um paliativo pode ser simplesmente o acompanhamento do envelhecimento e das doenças que naturalmente dele advêm, tendo sempre em vista a dignidade e a qualidade de vida do doente.
Todos temos, infelizmente, alguém que já precisou ou que já beneficiou destes cuidados. Todos. É ou não é verdade?
E, sem querer desconsiderar nenhuma outra área da medicina, esta merece a nossa solidariedade, as nossas contribuições, e os seus profissionais merecem todo o nosso respeito, carinho e gratidão. São profissionais de saúde, com os seus conhecimentos científicos e técnicos, mas também são profissionais de amor, de compreensão, que muitas vezes devem ver ou ouvir coisas que nem me atrevo a imaginar.
Vivemos vidas cada vez mais longas, mas nem sempre melhores. Num país com a natalidade decrescente, com escolas que fecham, precisamos não esquecer que no extremo oposto da linha está a doença e a velhice. E este é o dia desses cuidadores.

29/09/2016

Estou a vencer

...e pronto, é isto. Mas não quis deixar de assinalar.
Quando chego às consultas de terapia já não digo "ando benzinho". Quando eu própria penso para mim e faço o balanço dos meus dias, já não penso que ando a passar por entre as gotas da chuva, a escapar às situações difíceis, temente do que possa vir por aí...
Ainda tenho os meus momentos sufocantes, sim. Todos os dias há pelo menos um minuto em que, por qualquer motivo, temo as pessoas que me rodeiam, temo a hora da refeição porque o apetite nunca abunda, temo o encontro marcado, a conversa que se aproxima, o por do sol, que nesta altura começa a vir cedo demais. Temo os dias tristes de outono, a chuva cinzenta, o frio que se entranha, a fraqueza física que nos é própria nestas estacões mais frias...
Temo tudo isto, mas só por um minuto, ou por uma meia hora. Porque a seguir vou conversar, vou respirar para a rua, vou olhar o cair sereno da noite; lembro-me que o frio também é sinónimo de aconchego e mimos. Lembro-me que o frio faz apetecer as comidas quentes e confortantes. Lembro-me que as depressões de outono não é a estacão que as traz, mas antes a nossa memória de outros outonos: os da natureza e os da nossa alma. E a minha está a curar-se. Quando me lembro do meu valor e da minha dignidade. Quando me lembro que peço desculpa demasiadas vezes, que me faço pequena, para não incomodar ninguém, que espero instruções e opiniões de toda a gente, que muito poucas vezes confio no poder do meu "sim" ou "não"... Quando me lembro destas coisas, ganho mais confiança no meu poder. Quando sou menos exigente com a realidade que me rodeia, mais receptiva, ganho satisfação e serenidade. Quando olho os outros com mais amor, ganho paz.
E tudo isto são ganhos. São vitórias. Não tenho a ilusão que há nao haverá dias difíceis. Ou dias maus. Todos os temos. Mas os restantes são dias de vitória. E o meu  peito enche-se de ar, dilata-se de plenitude e aceitação. As minhas costas endireitam-se. E eu sinto-me em paz.

O meu pai fez anos e eu, ao contrário do que pensava, não senti vontade de lhe falar ou de o fazer sentir melhor. E, por isso, não o fiz. Fiz o que eu queria, em vez de fazer o que achava que esperavam de mim. E respiro devagar.

10/09/2016

Mais amor

... Preciso adoptar este lema. Repetir este refrão. Escrever num post-it e colar em todas as paredes. Escrever nas mãos, para ver quando olho para elas, sinal de que estou desconfortável ou triste.
Mais amor nos olhos com que vejo o mundo faria com que eu fosse ainda mais feliz. Sem ceder tanto lugar ao medo e à desconfiança que tantas vezes me tiram o ar e o apetite.
Mais amor tiraria lugar ao julgamento que automaticamente faço, que todos fazemos, daquilo que vejo. Eu julgo muito. Mea culpa.
Mais amor pelo momento presente, que é tao precioso e a única coisa que temos de certo. Mais amor pelos que partilham esse momento comigo, dia após dia, segundo após segundo.
Ser mais amor. Ser melhor pessoa. E ter fé em mim, no facto de eu ser boa pessoa, de ser estimada, de ser um encontro agradável ou uma palavra amiga no dia dos que se cruzam comigo.
Amor vai fazer com que eu não tenha dias rabugentos com tanta frequência. Amor vai fazer com que eu seja mais tolerante. Porque o Amor tem uma face meio escondida que é a Gratidão, e cultivando um, a outra virá também.
Estou a aprender também que, tal como o optimismo, o Amor não tem que vir assim espontaneamente e, se não vier, estamos condenados. Não. Eles podem e devem ser cultivados, alimentados, estimulados. Devemos lembrar a nossa Mente de os sentir, até que eles se tornem um hábito.
Quero criar hábitos de amor. =)

02/08/2016

A César o que é de César...

...e a Briseis o que é de Briseis.

Quando o sol se põe, é para mim.
Quando o calor abrasador é cortado por uma brisa leve, é para mim.
E quando os patos ensaiam um voo rasante sobre o Douro, é para eu ver.
Quando a Lua e as estrelas brilham, é a sorrir para mim.
E quando a Natureza simplesmente existe, é para mim.

Por isso, eu saio. Passeio, caminho, sento-me e contemplo. A minha natureza é simples e solitária, recolho-me e entrego-me à indolência doméstica. É-me confortável. Mas também nociva. Por isso, agora, saio. E aproveito.

22/07/2016

Acerca das bananas e da perda de confiança

Há uns anos atrás, ia abrir uma banana e, em vez de a casca se abrir como seria de esperar, dobrou. Eu agarrei no "chapeuzinho" e puxei para o lado e para baixo, como de costume, mas o que aconteceu foi a casca dobrar, em vez de partir; ficou a polpa toda esmagada e mole no interior e a banana fechada. Tive que usar uma faca. A partir daí o feitiço quebrou-se, a confiança perdeu-se. Nas vezes seguintes em que fui para abrir uma banana, pensei no gesto que ia fazer para a abrir e, em vez daquele movimento natural e decidido que toda a gente faz instintivamente, o que fiz foi tão desajeitado que voltei a dobrar e amassar a banana em vez de a abrir. Hoje, se não tiver uma faca por perto, peço a alguém que me abra a banana porque tenho medo de voltar a amassá-la.
E é tudo uma questão de confiança. De fazer as coisas de forma instintiva e natural. Quando o resultado não é o esperado, despertamos para a possibilidade de isso se repetir e, a partir daí, o que antes era natural e resultava, passa a ser temido, programado e, por causa do excesso de zelo, pode acabar por falhar.
Nas bananas, como na vida.

12/07/2016

Nota para mim mesma

...e para quem mais ler, porque acho que toda a gente merece este conforto.
 
Que nunca me arrependa. Sem ligar àquela distinção de "arrepender do que fiz" vs. "arrepender do que não fiz". Arrependimento de qualquer tipo.
Não deveria haver lugar para o arrependimento nas nossas vidas. Tudo o que fazemos é fruto do nosso raciocínio ou da nossa emoção ou da nossa vontade... é fruto de algo que nos move e que nos faz acreditar que será o melhor. Todas as nossas atitudes são feitas tendo em vista o melhor, certo? Não se tomam decisões a pensar "sei que isto é a pior solução mas vou por aqui só porque me apetece sofrer um bocadinho mais  ou perder um bocadinho mais do que é a minha conta".
As decisões são tomadas com base no que temos, seja essa base bem fundamentada ou não, real ou ilusória. Não é isso que está em causa. Em causa está haver uma razão para o que fazemos. Se depois o resultado não é o esperado, não é culpa nossa. Não cabe arrependimento.
Se vier arrependimento é porque estamos a esquecer partes da história. Se parecer que fomos burros ou tontos é porque sabemos mais agora do que no momento.
Mas as decisões que tomamos com base no que nos é dado, são a pensar no melhor.
Não cabe arrependimento. Arrependimento inútil, que só pesa às costas e nos absorve a alegria.
Mudar de rumo, sim. Quando é preciso. Arrependimento pelo caminho feito, não. Nunca deveríamos permitir-nos isso.

04/07/2016

A vida é o que acontece enquanto eu estou ali encolhida a ter uma crisezita de ansiedade.
Não quero mais isto. Porra.

02/07/2016

É esse o espírito!

Hoje acordei a sentir-me triste e magra. Triste porque faz parte de mim. E magra porque é como fico quando a tristeza e a ansiedade me perturbam o apetite. 

Mas passaram algumas horas. Tive momentos em que sacudi a sensação. E momentos em que a sensação voltou.
Fui almoçar com pouca vontade, demorei eternidades a engolir um parco almoço. Em alguns momentos de distracção sinto-me mais tranquila e menos triste, e já não me sinto tão magra.
É este o espírito a manter! Tropeções, sim. Mas arribar sempre!

24/06/2016

A minha irmã é quase 9 anos mais nova do que eu.
Em pequenas, quando nos zangávamos por ela se ter portado mal, ela vinha passado poucos minutos querer brincar outra vez ou pedir mimos. E eu atirava-lhe à cara que ainda estava zangada por causa da atitude anterior dela, e ficava a ruminar esse rancor umas boas horas ou dias.
Da mesma maneira, quando era eu a errar, a vergonha e o orgulho mantinham-me longos períodos de tempo sem me aproximar dela.
Cheguei a comentar com a minha mãe a "lata" da minha irmã, de vir como se nada fosse, toda sorrisos, depois de termos discutido.

Hoje lamento esta minha natureza. Este "solo lunar" que sou, de que já aqui falei antes. Um solo que guarda por tempo indeterminado as marcas que lá se deixam, sendo que eu tenho uma certa selectividade em guardar as marcas negativas.
E carrego esse peso, essas mágoas comigo, que me impedem de sacudir o rancor, de voltar a confiar alegremente.
Não. A marca está lá, como uma nódoa que nunca sai totalmente.
Hoje lamento ser assim e gostaria de ter a natureza mais pura e infantil da minha irmã...

07/06/2016

Pessoas extraordinárias #4 - Terie Leijs

Tive a Sorte de estar a trabalhar no passado domingo, quando este senhor holandês passou lá no Museu. Tem 74 anos mas apresentou-se de botas de caminhada e mochilinha às costas, onde levava o cantil da agua, os documentos metidos num saco de plástico, uma boa câmara fotográfica e um GPS já um bocado danificado pelo uso, pelas quedas e pelas molhas, com botões normais, que ele não gosta de ecrãs tácteis (e mostrou-me os dedos velhos e inchados, pobrezinho!)...
O Terie, e aconselho que procurem este nome no facebook só para verem o ar amoroso de vitalidade deste septuagenário... Dizia eu, o Terie percorre a Europa a pé, já fez o caminho de Santiago, já fez caminhos de Fátima... Esteve na Grécia, na Turquia, no Tijiquistão ou Cazaquistão ou outro país acabado em ão, e faz questão de andar a pé, sair dos circuitos, contactar com os locais que lhe dão de comer o que têm, dorme nos quartéis de bombeiros, gratuitamente, e durante o dia faz trilhos e passeios fora dos circuitos normais.
Diz ele que na Holanda há muito dinheiro e marcar umas férias é um problema muito grande porque as pessoas procuram "o melhor sítio para ir, o melhor restaurante, os melhores pacotes". Diz que o turismo de hoje é feito em bolhas. Bolhas onde as pessoas têm um pacote que inclui todas as experiências, todos os marcos turísticos e onde vêem muito pouco do que é genuíno e real.
Apercebeu-se com grande destreza daquele traço muito português que é ter um grande orgulho no que é nacional e no que temos e fazemos cá, ao mesmo tempo que nos achamos todos tão pouco, tão pequenos e dóceis na nossa labuta diária.
Quando lhe elogiei a energia e as boas pernas, ele abanou as mãos e disse que não "se tem" boas pernas, elas vão-se habituando à medida que o caminho é percorrido.

01/06/2016

Ai, sou tão boa pessoinha, este mundo é demasiado cruel para mim...

Este post pode parecer uma declaração do género da supra citada. E é mesmo. E seria um post de fazer revirar os olhos de indignação por parte dos leitores e por mim mesma, se não fosse de facto uma situação que me traz desconforto e desassossego.
Fui convidada para jantar e passar um tempo com uma rapariga da qual nem nunca fui muito próxima, apesar de os nossos respectivos serem amigos. Às vezes acho que ela tenta uma aproximação um bocado forçada. A rapariga é um amor, nunca me fez ponta de maldade... Mas é um bocado faladora, do género de eu perguntar como está e ela conta-me com pormenor que comprou um móvel há 15 dias, queria tê-lo limpo na semana passada mas não pôde por um qualquer motivo (note-se que eu vos poupo a este motivo mas ela não me pouparia a mim), de modos que estava para ser a limpeza há dois dias mas nessa altura saiu tarde do trabalho, o marido ao jantar engasgou-se e ela teve que sair de casa para fazer uns recados, e a limpeza acabou por ser feita só hoje, com tanta pressa e tantas ganas que se entalou na porta do móvel quando ia buscar o Pronto Limpa-Moveis...
É isto, em resumo.
Não me apeteceu. É uma jóia e um poço de bondade, mas ando numa fase muito introspectiva, mais pro triste do que alegre e não me apeteceu.
Dei uma desculpa frouxa e eis-me agora a sentir culpada.
Porque disse que não. Um não que, embora um nadinha mau ou cruel, era a única resposta capaz de me poupar um sacrifício e um resto de dia muito longo.

E agora que sabeis que me sinto ligeiramente culpada, ligeiramente temerosa que ela descubra, ligeiramente envergonhada perante o meu namorado, a quem relatei o sucedido... Agora que sabeis isto tudo, digam lá se eu não sou tao boa pessoinha...? Tao estúpida pessoinha, a precisar de assuntos mais sérios para se preocupar...

28/05/2016

Eu sou inteligente. Sou uma pessoa inteligente. Aprendo rápido. Leio muito. Decoro muita coisa com alguma facilidade.
Falta-me inteligência emocional. Falta-me perceber a equação que resolve os pensamentos maus, que anula os medos; falta-me decorar a receita para estar bem.

26/05/2016

Pessoas extraordinárias #3 - a Juliana

A Juliana não é muito bonita. Podia ser, se a vida lho permitisse, se fosse mais simples. E acho que deve parecer mais velha do que é na realidade. Não sei a idade dela... A Juliana farta-se de trabalhar. Aceita o que aparece, é empregada doméstica. O marido trabalha na agricultura e recentemente teve que emigrar.
Conheço a Juliana só porque vive no mesmo prédio que eu, mas acho que tem uma vida um pouco difícil ou triste. O filho é algo atravessado e vejo-a várias vezes a ralhar-lhe na rua.
Há bocadinho encontrei a Juliana a entrar no prédio, mais o marido e o rapaz, todos com ar de quem veio da festa da Comunhão. Ao passar por eles, agradeci ela segurar a porta para eu entrar e sorri-lhe enquanto lhe disse "que bonita está hoje!". Ela sorriu e agradeceu. O marido seguiu sempre, nem lhe vi a cara, e disparou escada acima, sem sequer esperar pelo elevador, enquanto ia a falar de modo grosseiro para o rapaz, que levava um dos sapatos na mão... Calçado novo, não há pé que aguente.

Senti tanta pena pela Juliana. Porque no dia da comunhão do filho, o marido veio de visita, ela arranjou-se tão bonita, para ir para casa com um filho infeliz de pé magoado e um marido zangado, que até se recusa ir no elevador com ela.
Senti pena por ela e por todas as lutas que são travadas por cada um de nós; lutas que nos desgastam e destroem mas que nos forçamos a disfarçar e seguir. Seguir sempre.

22/05/2016

"There is no reality"

Sou uma maníaca pela Verdade. Pela forma como as coisas são ou foram, na realidade, não segundo o relato e o ponto de vista de uma ou outra pessoa. E presumo muitas vezes, como sou algo compreensiva e volátil, que consigo ver a Verdade, mesmo entre lados antagonistas. Imparcial, justa, omnisciente, eu. Suprema presunção.

A Verdade não existe. Basta vermos um documentário científico acerca das cores, da nossa percepção delas e do facto de ser a luz a responsável pela nossa visão. As folhas que vemos verdes, não são na realidade verdes.

O que há de mais verdadeiro que um espelho? O espelho reflecte; é o derradeiro equalizador, dá o que recebe, sem filtros.
Mentira! Os espelhos nos provadores das boutiques fazem-nos parecer mais elegantes para não hesitarmos em comprar as roupas. Há um espelho no ginásio onde pareço mais magra. Se olho para o espelho da parade ao lado, pareço mais cheia um bocadinho. Gosto mais desse.
O que se vê ao espelho, não é a realidade. É a realidade reflectida com o defeito que o espelho lhe confere. O espelho não está a mentir propositadamente, ou com malícia. Mas ele, simplesmente, não é uma tábua-rasa; tem um pre-conceito, ou um pre-defeito, e é influenciado por ele que nos devolve o reflexo.

Preciso saber isto. Preciso fazer esta ginástica mental para não levar a sério os pensamentos tristes e fatalistas. Para acreditar que as coisas podem ser, E SÃO, melhores do que aquilo que a minha mente vê. Preciso treinar o riso, o optimismo e a simplicidade.


13/05/2016

Oh, não... Outro post sobre a ansiedade... =)

Depressão é excesso de passado.
Stress é excesso de presente.
Ansiedade é excesso de futuro.

Não sei quem é o autor, encontrei a frase no facebook, e encaixei no diagnóstico. A minha ansiedade acontece quando me esqueço de que estou no presente. Quando me deixo dominar pelas referências erradas do que aconteceu no passado, ou pela grandeza esmagadora e incógnita do futuro e isso me impede de simplesmente estar bem no presente. Carrego excessos que me desregulam e perturbam, e os passos conseguidos ao longo de tanto tempo de esforço, perseverança e desconforto parecem tão pequeninos, tão fáceis de recuar.

Sou uma maratonista, uma ultramaratonista; já fui consultada por N especialidades, tomei medicamentos talvez não de A a Z, mas seguramente de A a F ou G; já falei com pessoas com problemas semelhantes, já falei com pessoas que nunca padeceram de nada deste foro; já li testemunhos deprimidos, já li testemunhos vitoriosos; já fiz muitas coisas para tentar fugir à onda crescente de angústia interior: já cozinhei, já fiz limpezas, já tomei banho, já fui caminhar, já procurei alguém para falar, já fiz ginástica, já me fechei sozinha, já fiz arraiolos, já depilei as pernas!!! (interessantemente, a dor localizada, atenua o mal estar ao nivel da barriga e do peito), já joguei no computador, já pus música calma, já pus música alegre, já tentei exercícios de respiração e relaxamento que aprendi no yoga, já li literatura e também já li historietas ligeiras, já fui às compras, nem que seja só de pão, já fiz sudokus e str8s ( ou lá como se chama o jogo novo que vem na Dica), já pintei desenhos num livro de colorir para adultos, já vim escrever no blog, já escrevi um mail à Mary ( estás aí? Tens tão pouco tempo... Que benção, teres uma vida que amas e te ocupa! =) )... Todas estas coisas me fizeram bem em algum momento, e me falharam noutro. Não há uma receita infalível. Que bom, se houvesse...! Mesmo que fosse muito complicada de executar... A simples tarefa de ter algo complexo a executar serviria de distracção no combate à sensação física avassaladora de perder o controlo. 

04/05/2016

"O Carteiro de Pablo Neruda", de Antonio Skármeta

- Don Pablo, (...) estou apaixonado, perdidamente apaixonado.
A voz do poeta, tradicionalmente lenta, pareceu deixar cair desta vez duas pedras, em vez de palavras.
- Comtra quem?

Fez-me sorrir este pedacito deste clássico da literatura que estou a ler pela primeira vez. Sorri porque compreendi numa fracção de segundo aquilo que já sabia, mas que nunca havia pensado: que o amor e a paixão podem ser brandidos como uma arma, contra o próprio objecto desse sentimento. De tao arrebatador, tao profundo, o sentimento pode ferir o espaço e a natureza do outro. Irá ferir, de certeza, se for correspondido. Vão ferir-se e adaptar-se e repelir-se para se afastarem magoados, ou para regressarem um ao outro com perdões e paciência.
O amor é uma arma, de facto.

29/04/2016

Sobre os sorrisos

No trabalho, um turista australiano velhinho, interrompe-me enquanto lhe falo para perguntar:
How do you know you are in Portugal?
Eu respondi que não sabia... Ele disse-me que sabe que está em Portugal quando vê um sorriso como o meu, porque em todo o lado onde foi, sempre sorrisos assim calorosos, e enquanto ele falava eu sorri mais e ele, cheio de satisfação exclamou "see?! There you go!"
Disse ele que não se vê sorrisos assim noutros sítios. Na Rússia, por exemplo... Respondi que, com o clima de lá, se calhar eu também não teria muita vontade de rir, ao que ele respondeu que na Austrália o tempo é bom e mesmo assim não se vê as pessoas sorrir como em Portugal.

Que velhinho amoroso, que mesmo num dia em que andei com uma nuvem cinzentona a pairar teimosamente sobre mim, viu luz no meu sorriso de olhos tristes.

20/04/2016

Pessoas extraordinárias #2 - a Elisa

A Elisa é amiga de infância da minha mãe. É uma amiga daquelas a sério, que brincaram juntas na infância, que se atreveram juntas na adolescência, que se viram casar e ter filhas e que, hoje com 50 anos se vão encontrando às vezes, quando a rotina diária quer, e param sempre um pouco a conversar, a perguntar pela vida e pela família...
A Elisa conhece a minha mãe, e ficou do lado dela quando, na altura do divórcio, meio mundo se virou contra ela porque uma mulher é desgraçada quando o marido a faz infeliz, mas é uma cabra que "de certeza já tem outro" se decide pôr fim a isso e lutar pela sua saúde.
Foi a Elisa que segurou a minha mão durante a homilia, neste dia.
Foi também ela que, por trabalhar no laboratório de análises onde nós éramos clientes alertou a minha mãe para o facto de eu precisar de um acompanhamento, de eu não estar bem, apesar de o médico de família me mandar sucessivamente para casa com suplementos de ferro, porque isto é só uma anemia ligeira, está tudo bem... Foi no seguimento do alerta da Elisa que a minha mãe me levou a um hematologista que me diagnosticou um traço talassémico e que me ajudou a ter uma vida saudável.

A Elisa hoje está desempregada, porque o laboratório mudou de administração, as lambe-botas foram mantidas mas ela não... É uma mulher de quase 60 anos, que nunca fez mais nada na vida e que se vê agora demasiado jovem para a reforma mas demasiado velha para a aceitarem noutro lado.
Passeia muito a pé aqui pela terra. Continua a ir à missa. Às vezes vejo-a passear com o marido, um grande companheiro, e a sua netinha, de 1 ano.
Pergunta-me sempre como ando, como anda a minha cabecita e a ansiedade, e se ando a comer bem.

14/04/2016

Ainda a Invicta

...ainda tem a mesma aura que desperta em mim um sentimento como o que algumas pessoas descrevem ao pisar, por exemplo, o chão sagrado de Fátima.
Fui lá a uma consulta, ainda na busca para a minha Cura, para a saída desta escravatura do meu corpo que se submete aos caprichos da minha mente e da ansiedade. Tive algum tempo para deambular pela baixa, antes de partir, e é sempre um assombro olhar do alto da 31 de Janeiro e ver já tão perto os Clérigos, a Torre recortada no céu cinzentão do dia de hoje, virada para o que parece ser um abismo onde o mundo termina. Desci a rua, e voltei a subir em direcção à Torre, e tive a sorte de ver a Praça da Liberdade animada por um senhor de porte teatral que tocava melodias tristes num trompete. 
Dá-me a sensação que lá tudo é eterno; tudo vem de muito longe, de muitas outras vidas, e existe uma continuidade em todas as pedras e uma pequenez comovida em todos os que sobre elas caminham. Fui fazer a vénia à Fonte dos Leões, em cuja água a minha cabeça ja se molhou, e voltei para a estacão...
Fui turista sem câmara fotográfica, só preocupada em gravar na retina mais uma visita a um sítio que para mim é tão especial.

07/04/2016

7 de Abril - Dia da Mulher Moçambicana



Aqui, a minha homenagem às mulheres Moçambicanas e, através delas, à História do país e da sua Libertação. Não posso dizer que conheça muitas, mas também só precisei ver um narciso uma vez para saber que gosto de todos eles e são a minha flor favorita. Conheço uma mulher moçambicana que é conselheira e amiga, admirável.

A wikipedia, como tudo, está muitas vezes cheia de informações imprecisas, gralhas ou erros crassos, mas serve para uma rápida contextualização acerca deste dia. Podem ver aqui.

31/03/2016

"namaste"

Quando meditamos, no silêncio do nosso coração, ao fim de algum tempo, começamos a ver as coisas tal como elas são...

Hoje a aula de yoga foi de meditação profunda... E, ao fim de algum tempo, eu consegui ver as coisas de forma serena, com aceitação, com paciência, com vontade de construir e com amor no meu coração. Tive medo, no inicio do exercício, que a análise me levasse a ver as coisas engrandecerem, pesarem, e eu a encolher... Mas não foi o que aconteceu. Eu cresci, eu tive consciência do meu corpo, da minha História, do meu Eu, e as outras coisas ficaram em proporção harmoniosa comigo.
As minhas crises de ansiedade, os meus medos e preocupações, surgem quando essa proporção fica desequilibrada, quando vejo as coisas de uma perspectiva errada, numa ilusão de óptica...
E rogo a mim mesma, ao meu "Mestre Interior", à minha Alma Etérea, à minha Mente, a Deus, ao Tao, ao Karma.... A todos os nomes que damos a essa Entidade que mexe os cordelinhos do Universo... Rogo-lhe que a minha visão não fique desfocada, turva, confusa... Que eu veja sempre as coisas tal como elas são... Porque o que elas são é sereno, é pacífico, é um milagre, e é impermanente.

22/03/2016

Em início de consulta, a Psicóloga pergunta...

"então? Como é que temos andado?"
Respondo: ando benzinho... Choro quase todos os dias, mas ando benzinho...

Ela assustou-se. Mas eu já não tenho medo de chorar. O choro é o descarregar de um excesso... De um excesso de tristeza, de memórias, de medos e antecipação, de zelo, de saudades e penas... Como uma nuvem que se enche até ao limite, e depois chove. O meu choro dá-me leveza.

...mas quase todos os dias, não é bom... Pronto, até eu admito isso. =) mas já passou. Agora já só choro de vez em quando, por uma questão de manutenção...

20/03/2016

Fechei uma porta. Tranquei as janelas.

Disse adeus ao meu pai. Há uma semana.
Atendi-lhe o telefone e, antes que ele tivesse tempo de começar a chorar os seus infortúnios alcoolizados, misturando arrependimento por nunca ter sabido ser pai com insultos e ataques por eu nunca ter sido uma filha amorosa... antes que ele tivesse tempo disso, eu disse-lhe, tal como já havia ensaiado na minha mente, tal como até já havia sonhado: "Eu não te vejo há 10 anos. Quando eu fui à Suíça, não tiveste tempo para te encontrar comigo. Vieste a Portugal, não disseste nada. Quem és tu para mim? Não quero mais isto. Segue a tua vida, eu estou a seguir a minha. E agora vou desligar. Adeus."
Faz hoje uma semana. E só agora me apercebo do tamanho deste gesto. Desprendi-me desta relação que mais era uma "ralação", onde as chamadas telefónicas eram irregulares, às vezes semanas ou meses sem ligar, e cujo conteúdo alternava apenas entre o choroso ou o zangado. Invariavelmente regado com álcool.
Não quero mais.
Passou mais um dia do Pai. Senti novamente inveja das memórias boas que os outros têm dos seus. Não pensei no meu.

16/03/2016

Obras ao nível do "quinto andar" - precisam-se.

...porque vou aprendendo que, ao contrário do que imaginei e do que sempre quis para mim, sou mais negativa e pessimista do que outra coisa...
Sou tão ansiosa e temerosa com as voltas do mundo e as partidas dos outros que, mesmo quando vivo um momento de serenidade, tenho lá no fundo da minha mente a voz que me alerta que aquilo não poderá durar, e o que será que irei pagar em troca daquele momento sereno e feliz; e, instintivamente, sinto a angústia, aquela intranquilidade, que erradamente interpreto como uma preparação, um estado de alerta para quando vier a próxima partida da vida.
Saboto a minha própria felicidade, como me diz o meu amor, a quem quase levo à loucura com as minhas variações e "avariações".
Tenho tido dias serenos, como já não tinha há muito. E apercebo-me que é nessa serenidade que reside a felicidade; não preciso viagens, não preciso festas, fugas à rotina... Preciso serenidade. Serena, sou feliz.
E, quando essa serenidade vem, hesito em estirar-me nela a apanhar sol, simplesmente. Hesito porque estou já a temer o momento em que ela me abandone, sem aviso ou explicação, me abandone simplesmente, como já aconteceu noutras vezes.
Mas a luta continua. Quero fazer da serenidade um hábito. A luta continua...

06/03/2016

Cântico Negro, de José Régio

(Deu-mo a conhecer a Júlia, minha querida acupuntora... e reza assim:)

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

17/02/2016

O palácio de pedra e o palácio de gelatina

Era uma vez um casal de namorados, que viviam em mundos tão diferentes... Ele vivia em azáfama, seguro de si e com bravura encarava tudo e todos. Vivia num palácio de pedra, sempre firme e inalterado, que não era abalado por coisas abstractas como medos ou dúvidas.
Ela vivia no palácio feito de gelatina, onde tudo era questionado e as paredes tremiam a toda a hora. Ali, as emoções corriam desvairadas, medos de rejeição, de impotência, do desconhecido, das partidas da imaginação e da tristeza que brota sem se saber de onde...
Quando ela o visitava, admirava-se sempre com a solidez tranquila daquele palácio de pedra, inabalável, inquestionável, tão simples, tão racional e directo. Às vezes parecendo insensível. E, ao regressar a casa, pensava que aquela era uma mudança possível. Ela poderia aprender a acalmar a sua mente e as sua emoções, e ir transformando aos poucos as paredes gelatinosas da sua casa em algo mais sólido, algo que não trema por natureza, algo onde seja agradável viver.

14/02/2016

Outra vez o São Valentim...

Nunca gostei de "dias de". Na minha forma de ver as coisas, os "dias de" são só desculpa para os hipócritas se lembrarem e mimarem alguém ou alguma coisa que negligenciaram durante o resto do ano, seja o seu amor ou uma árvore. O Dia de S. Valentim, por exemplo... Só tive por quatro vezes dia dos namorados com namorado, sendo que os últimos 3 foram nestes três últimos anos consecutivos... por isso, para mim, este dia era só dia de o meu pai, que bebia e nos fazia a vida num inferno, trazer rosas para casa, para oferecer à minha mãe, a quem amava muito, dizia ele, para fazer ver a mim e à minha irmã que, afinal, ele era um bom marido e um pai dedicado.
Já todos sabemos que isto são dias empolados pelo comércio e o consumismo, esse sermão já é velho. Ainda esta semana a comunicação social nos brindou com uma reportagem especial acerca da violência no namoro, que já é quase aceite como sinónimo de interesse e carinho...
Sim, sinto-me uma velha azeda e pessimista mas não gosto destes dias. Além de que me mexe com a ansiedade a obrigação de estar com humor condizente com o dia... Toda alegria e paz no Natal, toda euforia no carnaval e toda romance e denguice no São Valentim... Só o facto de ser o que se espera, tira-me toda a vontade e à-vontade...

12/02/2016

C3, ou "o três do coração"

Há pouco mais de um ano comecei a fazer sessões de acupuntura, para ter mais uma arma contra a ansiedade, sem recorrer a químicos e ansiolíticos.
Às vezes, pessoas conhecidas perguntam-me se a acupuntura me tem ajudado. Eu não estou curada ainda, mas também não sei como estaria se não tivesse começado a fazer estas sessões, mais ou menos de 3 em 3 semanas. Sinto-me bem, pelo relaxamento durante o tratamento e pela conversa antes e depois. Mais não sei dizer, e isto é o suficiente para querer continuar a ir. 
Interessei-me também, entretanto, por isto da Medicina Tradicional Chinesa, pela sua filosofia e fundamentos, e vou lendo umas coisas, quando posso...
O 3 do Coração é o terceiro ponto do Meridiano do Coração. Como numa constelação as estrelas são ligadas por linhas imaginárias, na medicina chinesa, os meridianos são linhas que ligam os pontos do corpo onde as nossas  energias se concentram e onde é possível agir sobre elas, através de pressão dos dedos ou com a inserção da agulha de acupuntura. Cada Meridiano age sobre um órgão, sendo que este ponto de que falo, o C3, é o terceiro ponto da linha que constitui o meridiano do Coração. Actuar sobre este meridiano produz efeitos benignos sobre o próprio órgão e o sangue, e também sobre as emoções e a Mente.
O C3 em particular é um ponto um pouco difícil porque, por ficar junto ao cotovelo, uma vez por outra, a inserção da agulha produz um efeito tipo choque eléctrico que percorre o braço até aos dedos da mão. A acupuntura não é dolorosa, mas às vezes acontece... A mim dá-me para rir quando sinto aquilo =)
Mas, apesar do desconforto que possa provocar, é um ponto que a minha querida acupuntora gosta de usar em mim... dizem os escritos que é um importante ponto de tranquilização, que acalma o Shen (espírito) e fortalece a Mente, alivia a dor, depressão, insónias, angústia, palpitações, estado de fraqueza ou tristeza... Em suma, é tudo de bom... e sinto um carinho enorme por ela quando me diz "vamos lá agora ao 3 do Coração", porque sei o bem e a tranquilidade que neste gesto ela me está a desejar.
Aqui está ele, o C3 e a sua localização no meridiano do Coração. Retirado de http://flordeameixeira.com/init/acupuntura/ponto/Shaohai/

05/02/2016

Sou um grão de areia

Para aproveitar a folga e o sol, fui a meio da tarde plantar o meu carrito na marginal, de portas abertas, para arejar, e deixei-me ficar lá perto, a vigiar e a ler o meu livro. Normalmente, sento-me de frente para o rio, indiferente a quem passa, mas hoje, por uma questão de manter o carro no meu campo de visão, virei costas ao cais e sentei-me virada para a estrada. Inevitavelmente, dei por mim perdida na observação dos que passavam, de carro ou a pé... Senhoras de idade, que caminhavam aos pares ou em trios, vagarosamente, e jovens casais vestidos desta maneira destrambelhada que se vê agora, em que parecem todos rappers ou criminosos, e elas vampiras esqueléticas e de caras apáticas... Ouvi fragmentos de conversas, ora relatos de casos quotidianos, ora lamentações, ora vozes enraivecidas...
Observar os carros também se revelou um exercício interessante... Como sempre, há os que vão bem acima do limite de velocidade, que é 50... Dentro do carro, o próprio condutor inclinado para a frente, sobre o volante, como se assim pudesse andar ainda mais depressa... Mas há aqueles carros que passam a velocidade moderada, os condutores reclinados no banco, alguns sorriem, talvez de algo que vão a ouvir no rádio, outros vão com uma cara tao inexpressiva que revela logo que vão a conduzir maquinalmente enquanto a cabeça está noutro sítio...
Relaxou-me, este exercício de observar os outros. Durante aqueles minutos, eu fui apenas expectadora... Passou por mim a correr um velho conhecido e até me soou estranho o timbre da minha voz, quando o cumprimentei, de tao imersa que estava na passividade da observação da azáfama alheia. Estava a imaginar para onde iria aquele homem a tão grande velocidade; que actividade seria a daquela empresa cujo nome eu desconhecia e que li escrito na lateral de uma carrinha; que confortável deveria ser a atmosfera dentro daquele carrão sofisticado que passou a velocidade de cruzeiro... Fiquei nestes pensamentos algum tempo, subitamente consciente da vida e da história que toda aquela gente carrega...
É-me mais fácil respirar quando me apercebo que sou só um grão de areia na imensidão do areal. Sentimentos de que sou notada, ou esperada, fazem-me alterar a respiração.

22/01/2016

Pessoas extraordinárias - a dona Fátima

Há pessoas extraordinárias. Em todo o lado. Cruzamo-nos com elas todos os dias sem as vermos, até chegar o dia em que, sem motivo aparente, poisamos o olhar com um pouco mais de cuidado e tempo. Acontece-me muitas vezes. Hoje aconteceu com a dona Fátima e, pela primeira vez, resolvi escrever sobre isso.

A dona Fátima é a florista da rua aqui de trás. Não tão sofisticada como outras, mais procuradas (e careiras também). Mas tem gestos carinhosos com as flores, ajeita-as como uma mãe ajeita um caracol rebelde na cabeça do filho. Nas datas festivas em que toda a gente corre às floristas, ela costuma ainda ter belas flores, quando as outras já só têm refugo, e é por isso que gosto de lá ir. Quando vou buscar um raminho para oferecer à minha mãe pelo aniversário, ela escolhe uma plantinha florida e manda-me entregá-la à aniversariante com um beijinho da parte dela.
Quando lá vou buscar flores para velórios, discretamente e com sensibilidade, tenta saber pormenores das minha relação com a pessoa falecida para me aconselhar um ramo mais discreto ou uma palma solene.
Hoje passei à porta da sua lojinha, sempre atafulhada de plantas, vasos, flores... Só deixa livre um corredorzinho que liga a direito a porta ao balcão, muito poucos adornos além das próprias flores e a tinta das paredes já a querer descascar... Mas hoje não! Hoje, no dia cinzento e naquela rua de comércio tradicional que se vai deprimindo a olhos vistos, ficando cinzenta também, vinha uma luz clara do interior da montra da dona Fátima e, no lado de fora, homens penduravam um novo letreiro, bonito, alegre. No interior, vazio e mais amplo do que nunca, com uma nova pintura e novos detalhes, a dona Fátima estava muito compenetrada a fazer alguma coisa que não consegui identificar... Mas fiquei feliz por ela, por dar um novo ar ao seu negócio de cores e perfumes e àquela velhinha rua.

20/01/2016

Queria muito que o meu blog fosse mais como aqueles que eu própria sigo e leio... Que fosse inspirador, que falasse das coisas boa da vida, que mostrasse bonitas imagens, ou contasse histórias que merecem ser ouvidas/lidas. Mas acho que o meu blog se foi aos poucos tornando num refúgio onde escrevo os meus medos, angústias e ansiedades. Não o faço com aquela ideia de ajudar quem possa estar a passar pelo mesmo... Não sou assim tão altruísta. Faço-o como desabafo, e porque recolho também alguma serenidade dos vossos comentários... E, pensando um pouco no assunto, com a esperança de ajudar, não quem sofre também do distúrbio de ansiedade generalizada, mas as pessoas que com elas lidam. Porque ao sofrimento pessoal que a ansiedade traz, junta-se o também grande sofrimento por ser quase impossível explicar ou justificar aquilo que a pessoa ansiosa sente. Eu expresso-me com muitas palavras, gosto e preciso de falar de tudo e acontece-me às vezes estar a descrever alguma sensação ou estado de espírito e quem me ouve interromper-me para dizer "é exactamente isso que sinto também!". É essa a minha esperança, que mais pessoas compreendam como é fácil e frequente despoletar um estado de ansiedade, e como ele se propaga pelo corpo, controlando tudo e tornando ameaçadoras até as coisas que conhecemos desde sempre.

Nestes momentos questiono-me acerca do valor da palavra perseverança. Porque só é perseverar se insistirmos em algo que nos desafia e assusta e no final der certo. Quando é que a perseverança passa a cobardia? Cobardia por não se saber ou querer admitir que é altura de tomar um novo rumo, virar uma nova página, dar um passo atrás para podermos depois dar dois em frente. Se der certo, foi bom termos perseverado. Se der errado, ao fim de todo aquele tempo de luta e de tentativas, vai ser chamado de cobardia, porque não se teve a coragem de cortar o mal pela raiz mais cedo.
Se ao menos pudéssemos ver adiante... Se pudéssemos saber se estamos a lutar por algo que vale a pena... Neste momento eu choro por não saber o que fazer...

17/01/2016

Percebo que sou anti-social quando...

...reparo que trabalho melhor quando estou rodeada de pessoas. O resto das pessoas precisa estar só para se concentrar e, rodeados de gente, tendem a conversar e distrair-se. Eu, se estiver só, derivo, vou pelas internetes procurar assuntos de interesse ou joguinhos. Com pessoas por perto, concentro-me no trabalho, porque não me interessa participar...

16/01/2016

A nossa mente é o que temos de mais poderoso. E digo isto mesmo num sentido anatómico. Não que a localização da mente se possa apontar num esquema do corpo humano, mas tirando esse pormenor, ela sobrepõe-se à resistência de um músculo ou à dureza de um osso.
Eu tenho alimentado a minha mente com coisas algo negativas, com tristezas e medos, e a minha mente transformou-se numa máquina automática que debita dúvidas, lembranças tristes e previsões azarentas numa fracção de segundo e sem ser preciso muito estímulo. A minha mente despoleta mal-estar físico, tremuras, dor no peito e barriga, vómitos. A forma como a minha mente está formatada faz-me interpretar as coisas de forma muito intensa, exagerada, fatalista. Posso, sem medo de estar a exagerar, afirmar que nos últimos anos praticamente não tive problemas de saúde além dos que tiveram origem na minha mente, na minha ansiedade.
E isto faz-me chegar à conclusão frustrante de que, se a mente tem o poder de nos dar uma dor física, se nós a conseguíssemos dominar ou conduzir por um caminho mais positivo e construtivo, que coisas grandiosas conseguiríamos fazer! Até faríamos as coisas levitar!!

12/01/2016

Sobre a morte de David Bowie

Que aliviada fiquei ao reflectir sobre o assunto e constatar que David Bowie nunca fez parte do meu universo musical. Sou do glorioso ano de 86 mas já os anos 90 iam bem adiantados e eu continuava a ouvir cá por casa os êxitos dos anos 70 e 80, porque o meu pai ficou parado nesse tempo. Isso deu-me um gosto e conhecimento geral dos grandes nomes desses tempos, não muito partilhado pela minha geração, mais virada para os sucessos seus contemporâneos. Mas David Bowie não era nome que constasse das k7's cá de casa e, por isso, o meu conhecimento dele limita-se a "Heroes" e "Let's Dance", das quais nunca gostei por aí além... E a sua participação em "Under Pressure", dos queridos Queen.
Fico, assim, feliz por não ter sentido o golpe e pesar que vi em outras pessoas ao saber da morte do "camaleão". Perdoem o cinismo da observação, mas fez-me pensar que, tal como com tantas outras coisas e pessoas, mais vale não saber, não gostar, não conhecer, e ser poupado ao sofrimento de perder...
Mas vai daí, talvez não. Talvez o ter conhecido e aproveitado seja melhor do que o espaço cinzento da ignorância.