20/03/2016

Fechei uma porta. Tranquei as janelas.

Disse adeus ao meu pai. Há uma semana.
Atendi-lhe o telefone e, antes que ele tivesse tempo de começar a chorar os seus infortúnios alcoolizados, misturando arrependimento por nunca ter sabido ser pai com insultos e ataques por eu nunca ter sido uma filha amorosa... antes que ele tivesse tempo disso, eu disse-lhe, tal como já havia ensaiado na minha mente, tal como até já havia sonhado: "Eu não te vejo há 10 anos. Quando eu fui à Suíça, não tiveste tempo para te encontrar comigo. Vieste a Portugal, não disseste nada. Quem és tu para mim? Não quero mais isto. Segue a tua vida, eu estou a seguir a minha. E agora vou desligar. Adeus."
Faz hoje uma semana. E só agora me apercebo do tamanho deste gesto. Desprendi-me desta relação que mais era uma "ralação", onde as chamadas telefónicas eram irregulares, às vezes semanas ou meses sem ligar, e cujo conteúdo alternava apenas entre o choroso ou o zangado. Invariavelmente regado com álcool.
Não quero mais.
Passou mais um dia do Pai. Senti novamente inveja das memórias boas que os outros têm dos seus. Não pensei no meu.

1 comentário:

  1. Faz imensa falta um pai e uma mãe na vida de uma pessoa mas, entre ter país que não o sabem ser e só servem para ralar e não ter... preferível não ter, sem dúvida. Beijinhos

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